reportagem especial

FOTOS+VÍDEO: moradores comemoram 162 anos de Santa Maria em meio ao isolamento e à saudade

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Lá do Bairro Chácara das Flores, o aposentado Júlio Couto, 60 anos, lamenta ter de celebrar os 162 de Santa Maria, comemorados em 17 de maio, sem aproveitar tudo o que a cidade costuma oferecer na data e ao longo do ano. Porém, ele entende (e defende!) que aplaudir o Coração do Rio Grande de casa é um ato necessário e uma exceção neste 2020. Ele acredita, pois, que quando a pandemia do coronavírus der trégua, haverá tempo para superar a saudade e perceber, quem sabe, que as relações com amigos, com familiares e com o próprio município estarão ainda mais sólidas.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

E a lista das saudades que Couto acumula é longa. Desde assistir aos shows e eventos ao ar livre, típicos das comemorações do aniversário, quanto ações das rotineiras como ir à cancha de bocha do CTG Araganos e aos jantares do CTG Tropa de Querência, bem como frequentar o Clube Dores. Mas a maior das saudades é, sem dúvida, a de compartilhar abraços e chimarrões:

- Era lá da Praça da Locomotiva que eu sempre encontrava o pessoal. Meu compadre mora em um apartamento na Avenida Presidente Vargas, e nossas famílias se reúnem lá. Sentimos muita falta de poder abraçar e chimarrear naquele local que é tão representativo para nós.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

 A reportagem especial deste fim de semana convidou, além de Couto, que vive na Região Norte, moradores de outras regiões para homenagear Santa Maria relatando quais locais sentem mais falta de frequentar. Gleen Eduards, da Região Oeste; Corrêa, da Região Leste; Rodrigues, da Região Sul, e Matheus, do Centro, falam sobre a saudade, a relação com o município e o anseio por dias melhores na Boca do Monte.

CLEBERTO ANSEIA PELA VOLTA DOS ENCONTROS COM AMIGOS E DAS ANDANÇAS SOBRE RODAS

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Morador do Bairro Camobi, o aposentado Cleberto Barros Corrêa, 76 anos, cruzou cidades e estados tripulando suas motos e lambretas. Colecionador de miniaturas diversas, câmeras fotográficas e placas, na memória ele também coleciona viagens inesquecíveis como para Londrina (PR), Bonito (MG) e tantas outras. Mas, resguardado e mantendo todos os cuidados para se prevenir do novo coronavírus, sua maior vontade é sair de casa para percorrer poucos quilômetros. A ele bastaria sair da Região Leste, onde vive, atravessar o Centro e chegar no Bairro Duque de Caxias, na sede do Motogrupo Gaudérios do Asfalto. Outra falta constante em tempos de pandemia é do grupo Herdeiros do Passado. Ambas as agremiações assumiram uma importância significativa na vida do aposentado. É que ele se autointitula um homem saudosista, que celebra os dias amparados nas lembranças das amizades que fez.

- Com o pessoal das lambretas, o Herdeiros do Passado, tenho encontros uma vez ao mês, e com o das motos, o Gaudérios do Asfalto, é toda quinta-feira. A sede dos Gaudérios é o lugar que mais tenho saudade. É parte da minha vida e que acaba sendo presente em vários segmentos do município. Agora mesmo, estamos arrecadando cestas básicas com a ajuda dos associados para doarmos às pessoas prejudicadas pela pandemia - conta Corrêa.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Orgulhoso, ele fala da relação com os Gaudérios dos Asfalto desde a década de 1990. Foram muitas parcerias, eventos, desfiles na Semana da Pátria e Semana Farroupilha e andanças pelo país que levavam o nome de Santa Maria como bandeira.

- Parente a gente não escolhe, mas os amigos, sim. O mesmo é com a cidade. Sou muito feliz porque eu escolhi Santa Maria. Vim por causa dos estudos dos meus filhos. Sou de São Borja e, depois de morar em sete cidades, resolvi me radicar aqui, e é aqui que eu quero ficar - pontua o aposentado.


GLEEN CONTA OS DIAS PARA OUVIR A BARULHEIRA DOS ALUNOS

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

É de ver os espaços internos e externos preenchidos com pessoas, os portões abertos e as vozes que ecoavam para além dos muros da Escola Marista Santa Marta que Gleen Eduards Menezes Soares, 29 anos, sente mais falta.

Embora sua casa fique a uma quadra de distância, os 41 dias de isolamento são contados um a um. Ex-aluno, hoje ele é educador social no colégio, ministra um curso de informática e mídias digitais para adolescentes de 12a15 anos e é coordenador de grupo de jovens da Pastoral Juvenil Marista (PJM).

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

O papel do prédio construído na Rua Irmão Cláudio Rohr tem um simbolismo para centenas de famílias e é o lugar favorito de Gleen em toda a cidade.

- Se olharmos para o passado, somos capazes de mensurar a dimensão do que essa escola proporcionou para a comunidade. Sempre foi um farol de esperança. Coisas básicas como água encanada, luz, linhas de ônibus, que hoje temos acesso, partiram da mobilização da instituição. E a causa dela está intrínseca em cada criança e adolescente que por ali passa. Em meio a essa pandemia, não está sendo diferente daquilo que sempre significou. Há um desejo forte daqueles que passaram por aqui em querer ajudar, especialmente dos jovens, de estar na linha de frente na arrecadação e distribuição dos alimentos. Em respeito ao isolamento, temos uma equipe exclusiva cuidando disso. Sinto também muita falta das oficinas e da vida em sala de aula.

LONGE DO BASQUETE, MATHEUS DIZ QUE A MÃO CHEGA A COÇAR

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Não é só da prática esportiva que Matheus Saldanha Filho, 69 anos, professor universitário aposentado, sente falta quando avista o ginásio do Corintians Atlético Clube pela janela de casa. O local é um espaço de convívio social e de reencontro de amigos: 

- É mais que rotina. É uma referência para mim. Olho para ele da minha janela como se ele (ginásio) estivesse no quintal. Terças e quintas à noite e sábado à tarde não assumo compromissos nem com a família, pois nossos treinos de basquete são sagrados. Durante esse isolamento, às vezes, me pego indo buscar a sacolinha do fardamento e lembro que a quadra segue fechada. A mão chega a coçar. É uma saudade impregnada na mente e nos músculos. Até das luzes acesas, que há dias estão apagadas, tenho saudade de olhar. 

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

O aposentado é integrante da Associação dos Veteranos de Basquete de Santa Maria (AVBSM). Para ele, a tríade basquete- Corintians-Santa Maria é um patrimônio da cidade. 

- Para mim, aquele lugar é único. Cheguei a morar ali dentro por três meses, antes de conseguir um lugar na Casa do Estudante, equando eu cursava Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Não existe Santa Maria sem Corintians, pois é um cartão-postal, todo mundo tem como ponto de referência. E para o município é um orgulho. Grandes eventos aconteceram ali. Tenho colegas de equipe como Bibi e tantos outros que viveram a época de ouro do basquete e, por meio do Corintians, levaram o nome da cidade em eventos nacionais e internacionais - lembra Matheus.

SEM IR À BASÍLICA DA MEDIANEIRA, ILDO RENOVA A FÉ EM MISSAS PELA TELEVISÃO 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Na última quinta-feira, Ildo da Silva Rodrigues, 55 anos, só atendeu à ligação do Diário na segunda tentativa, porque assista a mais uma missa pela televisão. Há um mês, essa tem sido a rotina da família que vive no Bairro Urlândia, se mantém em isolamento e não pode mais ir à Basílica da Medianeira aos domingos.

- É o que sinto mais falta. Também acompanho a Romaria que é algo que tem uma relação muito forte com Santa Maria. Sou católico, rezo para Medianeira, mas Deus é o mesmo para todo mundo. Ter fé sempre é importante e, em um momento como esse, de pandemia, ainda mais.

Rodrigues, que descreve o coronavírus como um "perigo invisível", faz questão de seguir os protocolos de saúde e diz que ficar em casa é uma questão de solidariedade com Santa Maria:

- Nossa cidade estará de aniversário no domingo. O melhor presente é nos mantermos vivos, protegidos e com saúde.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

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