reportagem especial

DIA DAS MÃES: três mulheres falam sobre a maternidade em meio à pandemia

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Será a primeira vez em que a ocasião será experimentada à distância para muitas mães e filhos de todas as idades. A pandemia do coronavírus impôs novas formas de celebrar o Dia das Mães e demonstrar os mais genuínos sentimentos. Muitos abraços terão de ser adiados, e o almoço do domingo, em mesas separadas. Fundamental é perceber que o isolamento social não é o mesmo que afastamento emocional.Vale falar por meio da tela do celular, do computador e até por trás do vidro do carro. Vale emitir amor em áudio, imagem e oração. Talvez, como nunca seja preciso se mostrar tão forte e resiliente.

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Para homenagear todas as mães de perto ou longe, a reportagem especial deste fim de semana traz histórias de três mulheres que falam da sua relação com filhos diante dos desafios que a pandemia impôs a cada uma: Sandra, Daiane e Jane. Na edição impressa o Diário também estampa, ao longo das páginas, fotos diversas mães. As imagens foram enviadas pelos filhos que participaram do concurso cultural Dia das Mães Especial. A ação consistia em enviar uma foto da mãe por e-mail junto de uma frase de até três linhas que respondesse à pergunta: por que minha mãe é uma mulher forte?

O concurso, que recebeu 113 fotos, que estarão em um álbum no Facebook do Diário, teve o patrocínio de Inanna Clínica de Biomedicina Estética e o apoio da Redvis Óptica Pérola e Luciana Marcos Roupas Calçados e Acessórios. As três melhores frases ganharam presentes. O 1º lugar ganhou um gerenciamento de pele e aplicação de toxina botulínica (em região a escolher); o 2º lugar recebeu um gerenciamento de pele (uma limpeza de pele e kit de produtos Inanna); e o 3º lugar foi contemplado com um gerenciamento de pele (planejamento detox e bioimpedância).

  • Jaqueline Tatiane Lima - 42 anos, supervisora - "Minha mãe é uma mulher forte porque, apesar dos desafios pelos quais já passou, tenho a sorte de encontrar na mesma pessoa a minha melhor amiga, a minha conselheira, o meu braço direito (e esquerdo também) e, principalmente, a minha maior inspiração" - Frase enviada pela filha Eduarda Carvalho Lima
  • Marta Teixeira de Melo - 53 anos, dona de casa -"Se eu sou o que sou hoje, foi porque uma mulher guerreira me criou. Me deu o mundo e viu meu mundo nascer. Eu te amo e Feliz Dia das Mães!" - Frase enviada pela filha Jessica Melo 
  • Daniela Dalt Mendes - 44 anos, advogada - "Minha mãe é mais que uma mulher forte, é uma fênix, a guerreira mais linda, a melhor amiga, uma mãe leoa, tudo isso misturado com o coração mais doce, gentil e humano que uma pessoa possa ter. Te amo, mãe! Obrigado por tudo!"  - Frase enviada pelo filho João Vítor Mendes Flôres

ELAS CONTAM OS DIAS PARA ESTAREM NOVAMENTE JUNTAS

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

Imprevistos, força e superação nunca estiveram tão presentes na vida da aposentada Sandra Maria Beltrame, 58 anos, nos últimos meses. Mãe de três filhas - Vanessa, 33 anos, Vivian, 32 e Nathália, 29 - teve de abdicar de momentos em família, que seguem sendo replanejados.

Logo após o Natal, no dia 27 de dezembro ela ganhou a primeira neta, Maria Luísa, filha da sua primogênita, Vanessa Beltrame. Em janeiro, foi a filha do meio, Vivian Beltrame, que também anunciou que estava grávida. Em 28 de fevereiro, quando o primeiro caso de coronavírus assustou o país, a aposentada contava os dias para voltar a Brasília para ficar com a filha e a neta.

- Eu iria no dia 12 de março e retornaria para Santa Maria no dia 28, trazendo elas comigo para passar mais uns dias. Não viajei, pois foi bem quando a pandemia aumentou, surgiram os decretos e eu cancelei a viagem - conta.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

O que ela jamais esperava era que a doença virasse uma realidade dentro de casa. Primeiro foi o marido, Valnei Beltrame, 57 anos, que testou positivo para coronavírus. Um vídeo do empresário feito de dentro do hospital pedindo conscientização das pessoas e respeito ao isolamento social circulou nas redes sociais e estampou televisões e jornais de todo o Brasil. No dia 29 de março, foi Sandra que precisou ser internada, também com a doença. Hoje, ambos estão curados e seguem com acompanhamento médico e fisioterapia. A doença e as ausências pelas quais foi submetida ressignificaram ainda mais a maternidade:

- Fui mãe bem jovem, abri mão de tudo pelas gurias e não me arrependo de nada. No meio de tudo isso, nunca vi tanto a necessidade de estar junto, a necessidade do toque, do colo mesmo. Fico muito triste pelas idosas e crianças que terão de passar o Dia das Mães isoladas. O nosso (dia) também sairá diferente do nosso planejamento, mas o amor é o mesmo.

Na última quarta-feira, Sandra, Vivian e Natháli, que moram em Santa Maria, e Viviane e a pequena Maria Luísa, que vivem em Brasília, fizeram uma vídeochamada. Do outro lado da tela do telefone, as filhas falaram sobre sentimentos, inquietações e muita saudade.

- Neste ano, não teremos nossas avós para o churrasco do Dia das Mães - lembrou Nathália.

Grávida, Vivian compartilha o que antes parecia incompreensível:

- É uma experiência nova conhecer-se mãe, assumir um novo papel e, agora, entender algumas coisas que a mãe sempre falou para gente.

Vanessa desabafou:

- Sou mãe há pouco tempo. Na metade de maio, volto a  trabalhar e já estou sofrendo por causa disso. Imagino o sofrimento da minha mãe quando saí de casa, em 2010. A gente nunca acostuma com a distância, ainda mais com essa pandemia acontecendo. Tem dias que a gente quer sentar em posição fetal e chorar, dá vontade de ser filha também. Mas tudo isso deve estar acontecendo por algum motivo e para ressignificarmos nossas relações.

PARA DAIANE, AMAR É PRESERVAR 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

Quando Daiane Iensen Martins, 37 anos, e o marido decidiram parar de trabalhar por 15 dias, eles tinham um motivo em comum: zelar pela saúde do filho Lucas Iensen Guilherme, 9 anos. Ambos são taxistas e viram as finanças apertar. Mas, mesmo assim mantiveram-se firmes na decisão.

É também por Lucas que Daiane orgulha-se de todo o esforço cotidiano. Ela conta que busca tudo que está ao seu alcance. Se reinventa quantas vezes forem necessárias para o bem-estar do filho.

- Fiz de tudo nesta vida. Fui confeiteira, secretária, diarista, segurança. Era empregada doméstica quando marido tirou a licitação e insistiu pelo táxi. Pensei...vou tentar. Hoje, sou apaixonada pela profissão, amo dirigir e conversar com as pessoas. Desde que o Lucas nasceu, dia 16 de janeiro de 2011, vivo para ele. Ele é muito especial, atencioso, sempre escuta as coisas quando explico - conta.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

O ponto de táxi de Daiane é em frente a um hospital da cidade e, com frequência, eles costuma conduzir pacientes da cidade e de municípios da região a diferentes destinos. Atualmente, ela voltou a trabalhar, mas não descuida da proteção. O toque é somente depois do banho, da roupa trocada e mãos higienizadas. Se não for assim os carinhos entre mãe e filho são por trás do vidro do carro.

- Eu sei que não posso sair de casa e tenho que usar máscara. A mãe chega tirando os sapatos, manda eu entrar no quarto e só saio depois para abraçar ela - conta o menino, que enxerga a mãe tão forte quanto o super herói favorito: o homem de ferro.

No Dia das Mães deste ano, Daiane conta que o melhor presente tem sido o aprendizado em lidar com situações adversas com base no amor: 

- Quando ficamos em isolamento foi para preservar ele. Voltamos a trabalhar, somos autônomos, mas tomamos todos os cuidados. A minha mãe está na casa dela, e só falamos pelo telefone. Irei adiar o abraço do Dia das Mães. Esse também um é cuidado de mãe e filha. A gente, às vezes, corre 16, 18 horas por dia e pensa: eu poderia ter ido mais lá. Por isso, a pandemia é uma lição para a gente. Chegou o momento de pensar em tudo, até porque ser mãe não é só dentro de casa, é enfrentar o que a sociedade e o que o mundo oferecem. Com 37 anos, nunca imaginei nas pessoas afastadas, que a máscara seria um acessório. É momento de muito mais amor, principalmente o de mãe.

ELA OCUPA A LINHA DE FRENTE NO HOSPITAL E EM CASA 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

Médica infectologista, ela ocupa lugar de destaque na área da saúde em Santa Maria. Nos últimos meses, ocupa até outdoors, bem como figura as principais notícias com esclarecimentos relacionados à pandemia do novo coronavírus na cidade. O que nem todo mundo sabe é sobre o lugar em que Jane Costa, 58 anos, mais gosta ocupar: o de mãe.

- Quando você vira mãe, você muda o foco da vida. Muda a forma que dirige, que come, que vê. Eu realmente tirei o pé do acelerador. Antes, qualquer congresso ou reunião científica, eu estava de malinha pronta. Depois que ela nasceu tudo foi reavaliado, pois é alguém que depende de você. E é instintivo, as mães de todas as espécies protegem suas crias. A gente não consegue almoçar juntas, mas o sábado de tarde e o domingo são com ela. É o bem mais precioso que eu tenho. É o objetivo da minha, de tudo que eu faço - conta Jane, referindo-se à filha Laura Costa, 20 anos.

 - E ela é forte, mata uns cinco leões por dia, mas é uma mãe normal, fizemos muitas coisas juntas - interfere Laura.

A jovem é estudante dos cursos de Moda e Publicidade e Propaganda. Em março, ela fazia um intercâmbio na Espanha quando teve de voltar para Santa Maria.

- Ficou dois meses lá (tempo recorde de distância entre mãe e filha). Deixamos as coisas dela sem mexer. Olhávamos para o lado, e cadê a Laura? Até as três gatinhas que a gente tem sentiram falta. Mas, quando ela veio, ficou 14 dias de quarentena. Em Covilhã, onde ela estava, não havia casos (de coronavírus), mas como ela passou por aeroporto, quarentenou. Ela estava ali, em casa, mas a dois metros. Ficou no quarto de hóspedes e sentava à mesa, mas lá na ponta - conta Jane.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

Médica no Hospital de Caridade, Jane trata pacientes com Covid-19 e testemunha a aflição de famílias separadas durante o tratamento. A profissional reitera a importância dessas e outras medidas e aproveita a proximidade da data que celebra todas as mães para refletir.

- Meu ritmo de trabalho é alucinante. Quando a Laura era menor, eu saía cedo, e ela estava dormindo, eu voltava, ela também estava dormindo. E vi, mais do que nunca, que é na ausência que a gente mais sente. O mesmo é com minha mãe. Ela tem 89 anos e não vou vê-la no Dia das Mães. Transito no hospital, não tenho o direito de colocá-la em risco. Com meus pacientes, a gente passa por isso, de ver as mães separadas dos filhos. Em todo esse tempo, só abrimos exceção para um paciente que era especial. Mas, como meu colega Fábio Lopes disse, e eu concordei, essa pandemia é evangelizadora. Veio nos mostrar o quanto devemos valorizar os momentos em família.

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