Deni Zolin

Ninguém esperava tarifa tão baixa no leilão da RSC-287. Há prós e contras

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Com certeza, muita gente ficou de queixo caído quando foram abertos os envelopes das propostas para o leilão da RSC-287, na sexta, na Bovespa. O governo do Estado, na melhor das hipóteses, sonhava com uma redução de até 25% em relação ao preço máximo fixado na licitação, que era de R$ 7,37 - se caísse 25%, ficaria em R$ 5,52. Mas o consórcio liderado pela empresa espanhola Sacyr, presente em 30 países, ofereceu impressionantes R$ 3,36 - queda de 54%. Foi muito longe das propostas das concorrentes, que ofereceram R$ 4,75, R$ 6,70 e R$ 7,30. Na prática, como será preciso aplicar o IPCA de maio de 2019 a maio de 2021, o valor para carros será mesmo na faixa de R$ 3,50. Será metade do valor que a EGR cobra hoje, de R$ 7 para automóveis.

A surpresa foi grande também porque em leilão recente, de rodovias no Mato Grosso, só houve uma empresa interessada em cada estrada, não havendo concorrência. Com isso, o pedágio naquele Estado ficou no preço máximo previsto no edital.

A curto prazo, esse preço tão baixo para a RSC-287 é excelente para os motoristas e as empresas que precisarão pagar pedágios para suas frotas. Hoje, para a EGR, um motorista de carro gasta R$ 14 de ida para passar nas duas praças. A partir de junho de 2021, quando a espanhola assumir, o custo total para cruzar nas duas praças cairá para cerca de R$ 7.

Onde serão construídas terceiras faixas na RSC-287

Porém, a partir de junho de 2022, quando a concessionária iniciar a cobrança nos três novos pedágios, o gasto total para carros para passar pelos cinco postos de cobrança subirá para cerca de R$ 17,50 - R$ 3,50 a mais do que é cobrado pela EGR. Outra curiosidade, nos pedágios da Ecosul, perto de Pelotas, a tarifa é de R$ 12,30.

Outro aspecto positivo é que, com preço menor, diminuirá o risco de que motoristas acabem buscando rotas alternativas, como ir a Porto Alegre pela BR-290, fazendo com que caia o volume de veículos na RSC-287 e a receita da concessionária.

Um único temor 
O lado negativo desse preço baixo é que cria um temor de que a concessionária espanhola possa enfrentar problemas de receita, no futuro, e não conseguir cumprir com as metas de obras. Afinal, só nos primeiros cinco anos, investirá R$ 599 milhões em melhorias e duplicações de trechos urbanos e terceiras faixas. Logo depois, começará as duplicações de trechos mais longos, de Tabaí a Novo Cabrais, que tem 127 km de distância. Mesmo que a duplicação de Novo Cabrais a Santa Maria fique para 2039 a 2041, nos 30 anos de concessão, a concessionária terá de investir R$ 2,7 bilhões em obras e melhorias na RSC-287. E para isso, precisará de receita dos pedágios. É preciso torcer para que a empresa não comece, futuramente, a querer pressionar para aumentar os preços ou para cortar obras de duplicação previstas no contrato, ou ainda que abandone a concessão, como ocorreu em rodovias de outros Estados no governo Dilma. 

Definido o valor da tarifa da RSC-287

O fato de ser um grupo forte, com presença em 30 países, e com financiamento a juros baixos na Europa, é uma esperança de que a Sacyr conseguirá cumprir com o contrato e duplicar tudo nos prazos. Mas não garante nada. Agora, é seguir cobrando, além de torcer para que tudo dê certo. Afinal, a região merece uma rodovia em boas condições e duplicada. E se for com tarifa baixa, será mais um atrativo para que grandes empresas invistam em Santa Maria e região futuramente, porque teremos boa ligação com a Capital.

Claro que ninguém gostaria de pagar pedágio, mas como disse o empresário Pedro Teixeira, da Planalto Transportes: "O pedágio mais caro que tem é a não rodovia", citando que isso provoca mortes e feridos em acidentes, além de custo elevado em manutenção de veículos, além de atrasos e maior gasto com combustível. Portanto, se a rodovia estiver duplicada, quanto se economizará de tempo e de combustível, por não ter de ficar atrás de carretas e ônibus? Mas agora, é esperar para ver. (Colaboraram Janaina Wille e Felipe Backes)

A REPERCUSSÃO
"O que aconteceu nesta sexta, com o leilão, é uma boa notícia, nada mais do que isso. Não quero ser pessimista, mas realista. Hoje, não há garantia de que as obras vão sair. A UFSM e outros órgãos públicos cansaram de pegar obra a preço mais baixo, o que é um problema da lei de licitações, e ter de parar a obra pela metade porque o valor era muito baixo. Nesse leilão da RSC-287, há o risco de a empresa espanhola vir depois, na boa fé, e dizer que esse preço (R$ 3,36) que apresentou estava errado, muito baixo, ou senão, pode começar a complicar para fazer as obras. Infelizmente, a gente está cheio de exemplos de que a coisa não andou conforme o planejado. Essa concessão da 287 dá um pouco mais de proteção do que obra pública. Tomara que esse caso da concessão da 287 seja exceção, pois a região não só precisa, como merece essa duplicação. A sociedade tem de acostumar a comemorar entrega de obras. A gente tem carência tão grande de infraestrutura que a gente acaba comemorando até anúncio de obra. A Faixa Velha, do anúncio até a entrega da obra, foram 20 anos. A Travessia, do anúncio até agora, foram uns 15 anos."
Luiz Fernando Pacheco, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), que faz parte do movimento Duplica 287

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