Apesar de ser totalmente legítima a preocupação com o caos econômico e social que a pandemia do coronavírus pode provocar no Brasil, o pronunciamento e as falas do presidente Jair Bolsonaro foram desastrosos por ir contra tudo o que a grande maioria dos especialistas da área de Medicina está dizendo para ser feito, não só aqui, mas também no mundo. Vários países estão mandando a população ficar em casa e inúmeras autoridades da área de saúde, que concordam com a recomendação da Organização Mundial da Saúde para seguir com o isolamento nos países afetados, criticaram a fala de Bolsonaro. Será que só o nosso presidente está com a razão? O problema é que ele passa para a população a ideia de que não há perigo, e pode fazer muita gente morrer.
Coronavírus: faltam máscaras e álcool gel em Santa Maria
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O que Bolsonaro e os críticos do isolamento social talvez não entendam é que os médicos defendem a reclusão para que a curva de avanço dos casos seja mais lenta porque os hospitais não vão dar conta de atender tantos pacientes graves de uma vez só. O vírus vai atingir quase todos, mas o objetivo do isolamento é reduzir a velocidade do contágio e permitir que os hospitais deem conta dos casos graves. Deixar a livre circulação de pessoas, segundo especialistas, pode e está sendo feito em países como os EUA, onde há bem mais UTIs, respiradores e estrutura para atender os doentes graves. Dessa forma, em 15 dias, todo o país seria atingido pelo vírus, gerando uma curva íngreme de aumento de casos, mas com queda rápida também. E são evitados estragos econômicos severos. Mas fazer isso no Brasil seria uma loucura porque o sistema de saúde, já combalido, não vai suportar.
Brasil tem 57 mortes e 2.433 casos confirmados de coronavírus
Só na quarta, a Itália teve 683 novas mortes, chegando a um total de 7.503 vítimas, e Espanha registrou 443 novas mortes, totalizando 3.434 óbitos e já ultrapassando a China. Ou seja, um número já elevado em países com estrutura melhor e que também estão com isolamento social.
O total no mundo passou de 20 mil mortos em 3 meses. Imagine a chacina que será no Brasil se as pessoas não ficarem em casa por um tempo. Daí, vão faltar leitos de UTI até para quem tiver outras doenças, e muitos vão morrer não só de coronavírus. Ou será que a ficha só vai cair se começarem a morrer aqui no Brasil mais de 700 por dia, como está acontecendo na Itália?
Saída depende de diálogo entre médicos, economistas e políticos
Bolsonaro até poderia propor daqui a algum tempo, após entrar em acordo com especialistas e com os governadores, que o isolamento fosse sendo desfeito gradualmente, até voltarmos à normalidade. Mas não agora. Até porque se o país seguir parado mesmo por meses, também poderá haver caos social, com desemprego em massa (fala-se de subir de 12 milhões para 40 milhões), saques, aumento brutal da violência e mortes por outros motivos. Em resumo, o estrago já está anunciado: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Ou seja, ou muita gente pode morrer ou a economia pode quebrar.
Com seu discurso, Bolsonaro parece jogar para a torcida e buscar apoio dos empresários e cidadãos comuns que, legitimamente, temem por uma quebradeira geral e desemprego em massa. Não só os médicos, mas os economistas precisam também ser ouvidos para buscar alternativas para salvar a economia. Porém, dessa forma como agiu, Bolsonaro vai assumir para ele a responsabilidade pelas eventuais mortes que virão daqui para frente. A mortandade só não vai ser pior porque os governadores e prefeitos não deixarão de fazer o isolamento social, e porque muitos voluntários estão trabalhando Brasil afora.
É uma situação extremamente delicada e que deveria ser enfrentada por todas as autoridades da saúde, da economia e da política com diálogo e responsabilidade, e não com ataques. Serão momentos difíceis, e nenhuma decisão será fácil de ser tomada.