Menos discurso e mais prática para diminuir efeitos de enchentes e secas

Menos discurso e mais prática para diminuir efeitos de enchentes e secas

Beto Albert

A comoção provocada pelas mortes e pela grave destruição da enchente histórica de maio gerou uma ampla discussão sobre alguns pontos: 1) Onde erramos. 2) O que podemos fazer para evitar que isso se repita. Claro que as soluções são das mais variadas, de acordo com a realidade e a complexidade dos problemas. 

É fato que precisamos sempre ouvir as opiniões de especialistas, porém, também é necessário elencar algumas prioridades. Até porque, não conseguiremos resolver tudo.

Meu grande temor é que, quando passar a comoção, grande parte das ideias caiam no esquecimento. Porém, para amenizar problemas ambientais, que agravam secas e enchentes, e risco à vida, seria possível definir algumas ações mais imediatas. Sempre ouvindo a ciência, focando em coisas que são consenso e que teriam um impacto maior e mais imediato.

E não é preciso reinventar a roda. Vou citar só alguns exemplos de medidas que foram tomadas pelo próprio governo brasileiro ou lideranças de outros países e que poderiam ser replicadas.


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Plano de drenagem

No caso das cidades, é urgente contratar planos de drenagem urbana, que vão analisar as microbacias dos córregos e apontar os locais que alagam e medidas para reduzir isso – além de fazer obras para corrigir locais que alagam. Temos gente gabaritada na UFSM que pode fazer isso. Nessa linha, há várias técnicas para frear avanço das águas, como incentivar reuso de água da chuva em prédios e casas (o que já é obrigatório em prédios, mas poderia ser ampliado), jardins de infiltração em parques, pátios e calçadas. As prefeituras podem transformar esses espaços em locais para acumular mais água nas enxurradas, com obras, muitas vezes, simples. Em Nova York, milhares de calçadas têm um meio-fio rebaixado que faz a água frear e cair numa caixa de brita, onde infiltra no solo. Isso também ajuda a evitar alagamentos.


Programa Produtor de água

Para garantir água mais limpa e mais perene em Nova York, foram a centenas de quilômetros para o interior e incentivaram agricultores a protegerem as vertentes com cercas e plantio de árvores nativas.
No Brasil, essa mesma técnica é adotada pelo próprio governo federal, por meio do projeto Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas (ANA). Ele prevê o pagamento de um valor anual por hectare das propriedades que protegem as nascentes. 

Isso garante mais água em períodos de seca e um líquido mais puro. Porém, no Rio Grande do Sul, só a cidade de Vera Cruz adota esse projeto. Deveria ser obrigatória nos municípios e Estados com áreas de risco de cheias e enchentes, como uma política pública semelhante à do SUS. Algo obrigatório de ser implementado.


Pagar para não plantar na várzea

O professor Mauro Schumacher, da UFSM, sugere que seja criado também um programa que preveja o pagamento de um valor anual aos agricultores e pecuaristas que abandonarem áreas de várzeas de rios para deixar as matas ciliares nascerem de novo. E vou além. Deveria haver um estudo para tentar fazer com que áreas que foram banhadas, no passado, voltem a ter essas estruturas que freiam o avanço da água nas chuvas e vão largando água devagar em períodos de seca. Isso também deveria ser uma política pública obrigatória, pois ajudaria a frear as enchentes.


Ações em encostas

Outra ação mais forte precisa ser com moradias em encostas de morros e áreas de risco nas cidades. Isso será feito na Rua Canário, mas já com atraso. É um problema bem complexo de solucionar, devido a fortes resistências. Porém, os governos precisam ampliar esses projetos. Claro que será difícil solucionar tudo, já que há milhões de brasileiros vivendo em morros, como nas favelas, e em locais de alagamento.

O prejuízo bilionário das últimas secas e da enchente de maio nos fazem pensar: será que os ganhos que tivemos no passado com a construção de cidades e lavouras sobre banhados, matas ciliares e morros está compensando? Inclusive financeiramente?

Talvez seja a hora de avaliar que o que se perde anualmente com casas e lavouras alagadas e destruídas não compense o que se ganha produzindo em áreas que eram banhado ou de mata ciliar. Esses mesmas áreas também garantem mais água no período de seca – e portanto, perde-se muito também nos períodos de estiagem por conta da retirada desses bolsões de proteção do meio ambiente. Afinal, sem banhados e matas, a água escorre muito mais rápido, provocando estragos, e na estiagem, os rios secam também com bem mais facilidade.

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