Alguns profissionais defendem que cannabis ajuda a tratar ansiedade, insônia, depressão e dor crônica. Mas o que a ciência realmente sabe? O artigo de Hsu e colaboradores, publicado no Jama em 2025, revisou centenas de estudos e mostrou que a maior parte dessas indicações ainda carece de evidência sólida. Há alguns usos com apoio moderado de pesquisa, como alívio de dor neuropática, controle de náuseas em quimioterapia e redução de espasticidade na esclerose múltipla. Em outras áreas, incluindo psiquiatria, os dados são fracos, mistos ou insuficientes. Para ansiedade e insônia, por exemplo, os estudos são pequenos, de curta duração e com resultados inconsistentes. E no caso da depressão, bipolaridade ou esquizofrenia, o artigo reforça que não há evidência de benefício. Isso não surpreende dado que cannabis é fator de risco para causar esses transtornos mentais. A conclusão dos autores é simples: cannabis medicinal não é cura universal, e sua prescrição deve ser cautelosa, baseada em indicações específicas e com monitoramento rigoroso.
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Uso de cannabis entre estudantes de Medicina
Pode parecer surpreendente, mas estudantes de Medicina – apesar de conhecerem os riscos – usam cannabis em proporções relevantes. O estudo liderado pelo professor João Pedro Gonçalves Pacheco, do nosso grupo de Epidemiologia em Saúde Mental da UFSM, revisou dados de 62.444 estudantes de 32 países, em 109 estudos publicados entre 1971 e 2025. Os resultados mostram que 29,2% dos estudantes de Medicina do mundo já usaram cannabis alguma vez na vida, 20,5% no último ano e 9,2% no último mês. A tendência, que havia caído nos anos 2000, voltou a subir na década de 2020, especialmente na América Latina, Ásia e África. Esses números importam porque esse grupo vive alto estresse acadêmico e longa carga horária, o que aumenta a vulnerabilidade ao uso de substâncias e suas consequências. Entender a realidade dos futuros profissionais de saúde é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e cuidado dentro das próprias escolas médicas.
Bolsa Família: milhões romperam o ciclo da pobreza
Muita gente ainda acredita que o Bolsa Família desestimula o trabalho. A realidade mostra exatamente o contrário. Segundo análise do Ministério do Desenvolvimento Social e da FGV, acompanhando crianças e adolescentes beneficiários desde 2014, 60,68% das famílias deixaram o programa até 2025. Entre os que eram adolescentes em 2014, os resultados são ainda melhores: 71% deixaram o programa na vida adulta. Muitos não só saíram do Bolsa Família, como ingressaram no mercado formal, indicando mobilidade social real. Esses dados reforçam um ponto fundamental: transferência de renda não acomoda – permite trabalhar e melhorar a vida de toda a sociedade. Ao garantir alimentação, escola, vacinação e dignidade, o programa reduz insegurança extrema e aumenta a capacidade de buscar emprego, estudar e empreender.