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Uma doença chamada pressa

Vivemos dias acelerados. Estamos sempre atrasados e pior, nos culpando por isso. Você já passou dessa fase? Parabéns! Ainda estou nela. Falta tempo para cumprir todas as tarefas no trabalho, em casa, na família e com os amigos. Lazer, nem pensar. Academia, já desisti. Pilhas de livros ao lado da cama esperando a ordem para serem devorados. Infinitos trabalhos e projetos para corrigir. Lista de filmes por assistir. Os recados do telefone muitas vezes sequer são respondidos a contento. São tantos grupos em que estamos inseridos que facilmente podemos enviar mensagens para as pessoas erradas.

Com o objetivo de evitar maiores problemas, procuramos manter a agenda organizada. Elaboramos, atentos, o planejamento de ações futuras. Entretanto, chegamos à conclusão inevitável: tudo é prioridade! Portanto, se não acelerarmos o passo, as falhas serão implacáveis.

Recentemente, tive a lição de que pressa não pode ser sinônimo de afobação e ansiedade, expressões que normalmente caminham juntas. Ao embarcar em uma viagem de estudos, andando rápido para não perder a conexão, caí e torci o pé. Recebi socorro ali mesmo, no aeroporto. Pé imobilizado, vem a dúvida: vou para frente ou volto para casa? Para frente é que se anda, então lá vou eu. Fiquei a semana toda no processo 'incha-desincha'. O raio-X apresentou lesão séria nos ligamentos e quase não consegui participar do congresso. Priorizava encostar o pé no chão no horário da alimentação e retornava com ele parecendo uma bola de futebol.

Ainda estou passando pelas consequências do tombo, resultado da urgência diária. Por mais que reviva o instante do acidente, só lembro que foi naquele segundo de 'bobeira', ocasionado pela ânsia em atingir a meta. Recordo que além da preocupação com o tempo, estava receosa em atrapalhar quem estava atrás de mim.

Vários alertas acionaram a partir desse episódio. Um deles foi a necessidade de usar cadeira de rodas. Quanta dificuldade de acesso, apesar de estar utilizando esse aparato em locais com rampas durante quase todo o trajeto. Outra foi a de perder a liberdade dos movimentos e necessitar da ajuda de outras pessoas. Aproveito esse espaço, inclusive, para agradecer a colega e amiga Regina Costenaro, a qual me conduziu, em tempo praticamente integral. Reconhecer publicamente é o mínimo que posso fazer para quem acompanhou desde o minuto da queda, posteriormente no pronto-socorro, na consulta médica, na aquisição de bota ortopédica e medicamentos, inclusive providenciando meus alimentos para os momentos da sua ausência. Realmente, inesquecível. Apesar de saber que ela praticou o cuidado com carinho, a sensação de atrapalhar o caminho do outro é muito desconfortável. Agradeço todos que tiveram a delicadeza de demonstrarem algum cuidado nesse período.

Só esses dois fatores instigaram refletir sobre o amanhã. O primeiro é que prestarei mais atenção aos cadeirantes, oferecendo ajuda sempre que possível. O segundo ponto é a necessidade de programar muito bem como será a entrada na terceira idade, visando dependência mínima.

Como consequência da correria, restaram os passos forçosamente lentos. Impossível não lembrar do velho e bom ditado: a pressa é, realmente, inimiga da perfeição. A pressa não só é uma doença como pode gerar alguma.

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