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Só sei que eles nada sabem!

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De repente, sou tomado pelo ímpeto de reduzir um texto meu publicado n'O Estado de São Paulo do dia 16 passado para caber aqui. Corto alguns trechos e repito a mim mesmo um verso de um poema do Augusto Meyer, que conheci pelas mãos de Manuel Bandeira em 1958, no Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro. Tornamo-nos amigos então, ele encantado pelo fato de eu recitar alguns de seus poemas.

Começo a escrever estas linhas também a partir do Cântico Negro do José Régio, "não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí!". Múltiplo enquanto ser humano, fui membro do Poder Judiciário, voltando a atuar como advogado desde 2010 e a produzir livros jurídicos e literatura de verdade, retornando à fotografia. Muitos eu mesmo no passado e no presente - hoje, aqui, agora - convictos de que o tempo é convenção.

Escrevi a respeito disso no meu A(s) mulher(es) que eu amo, afirmando que os acontecimentos não são encadeados, não se seguem uns aos outros. Menos ainda consequentes. Nada impede que o antes ocorra depois e um estalar de dedos seja mais longo do que a eternidade. No quadro da literatura que tento praticar um sujeito inventou um descompressor do tempo, mexeu no lugar errado e pum! Entramos na Antiguidade e passamos a ser uma civilização sem pré-história. Começamos pela metade!

Realmente não sei a respeito do que escrever, pois o tempo é uma convenção e - aprendi ouvindo o Lulu Santos - nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Pois tudo passa, tudo sempre passará. O velho Heráclito me ensinou ser impossível pisarmos duas vezes no mesmo rio. Depois Hegel, ao ensinar que a história não se repete e outro autor ao escrever sobre o 18 Brumário napoleônico, na França.

Ainda que seja assim manifestações do Poder Executivo hoje me perturbam, de sorte que - sorte ou azar? - não sei o quê, do que falar, escrever. Os graves momentos políticos que hoje vivemos me trazem de volta um poema de Álvaro Moreyra, no qual ele afirma que palavras não dizem nada, melhor é mesmo calar. Nada mesmo a dizer a respeito da atuação de quem se dispõe a agredir o todo a fim de obter vantagens pessoais.

A música e a poesia me acompanham, por conta do que vou andar por aí, pra ver se encontro a paz que perdi! E de repente soa em meus ouvidos o último verso de um poema do meu amigo Manuel Bandeira, Pneumotorax: "A única coisa a fazer é tocar um tango argentino!".

Os que por aí estão deveriam ouvir Sócrates: só sei que nada sei! Embora no fundo de mim mesmo eu suponha que Sócrates hoje se referiria a outros, assim: "Só sei que eles nada sabem!".

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