diário da esperança

Que a esperança que habita em mim possa habitar em você

Todos os meses, somos convidados a lembrar de uma campanha em prol da saúde. Uma não, várias. O fato é que algumas ganham mais destaque do que as outras. Em setembro, é de conhecimento (quase) geral que marcamos com amarelo os diálogos sobre a prevenção do suicídio. A relação com a esperança, aqui, parece muito direta e por isso vamos continuar.

De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), "o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos", além disso, "79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda"¹. Retomando um título anterior dessa coluna, não é só de esperança que vivem as pessoas.

Por que a retomada, você me pergunta, e eu respondo: porque além da leitura do nosso entorno, da inteligência emocional, dos vínculos, afetos e lutas cotidianas, é preciso que tenhamos entre nós uma linguagem comum e que, portanto, possamos ter espaços de fala e escuta para que tabus como esse percam suas forças. Falar e escutar com empatia, com respeito a dor do outro e a realidade que, independente da nossa vontade, assola a todos nós.

É preciso que a esperança que habita em mim possa habitar em você(s) - quase aquela saudação em sânscrito -, pois ao contrário é egoísmo, é cegueira social. Sim, esperança é de fato uma questão social e, por isso, corrijo a mim mesma quando afirmei que falar sobre ela, a esperança, é uma atitude ingênua.

Esperançar, quando pensamos com Paulo Freire², é juntar-se a outros para fazer de outro modo, é apostar que, com nossas intervenções, o mundo muda. Reencontrar a esperança é reconhecer essa capacidade de fazer para ser mais e não o oposto. Por fim, esperançar é problematizar o futuro, é romper com o determinismo de nossas trajetórias. E, aqui, é importante uma ressalva. Sim, o passado e o presente contêm elementos que, a todo momento, se faz necessário considerar; quem conta ou onde obtemos informações, o que sabemos de nós, o conhecimento e o acesso a direitos básicos, etc. Se tem algo que não podemos abrir mão é que, em toda a História, o humano que há em nós buscou vínculo, contato, individual e coletivamente. A prova? Continuamos apostando, vivendo, esperançando.

Assim, com toda beleza que é dedicar um mês às campanhas extremamente necessárias, que não apenas no amarelo e no setembro encontremos essas apostas no mundo, no humano, no diálogo; mas que ela, a esperança seja alimentada dia-a-dia, por nós, TODOS nós, no entre-nós. E por isso repito: que a esperança que habita em mim possa habitar em você.

¹ Disponível em no site

² Sugiro a leitura de "Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa" (1996) e "Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido" (1992), ambos de Paulo Freire - Patrono da Educação no Brasil.

Texto: Paula Hosana Silveira Biazus
Psicóloga e mestre em Educação Profissional e Tecnológica

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