plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Foi muito golpe
Neila Baldi 
Professora universitária

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Desde 2016, parte da esquerda denuncia o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff. Pois o recente livro com declarações do general Villas Bôas e a operação Spoofing deixam claro que foi muito golpe. "Não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles", sentenciou Dilma Rousseff, ao citar o antropólogo Darcy Ribeiro, na sua despedida. Quatro anos depois, parte da história vem à tona.

No livro "General Villas Bôas, conversa com o comandante", organizado por Celso de Castro, há a revelação de que que houve em abril de 2018 uma articulação golpista para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a recusar um habeas corpus que poderia impedir a prisão do ex-presidente Lula. Sem Lula no páreo - que liderava as pesquisas - a eleição do capitão reformado foi facilitada.

LIMITE INSTITUCIONAL

Villas Bôas confessa que as manifestações no Twitter foram combinadas e aprovadas pelo Alto Comando do Exército. Diz ele: "Tínhamos a consciência de estarmos tangenciando o limite institucional do Exército". E que se o STF cumprisse a Constituição e liberasse o habeas corpus, "haveria uma enorme insatisfação da população" e que o Exército daria "exemplo de institucionalidade". Para não dar um golpe militar, dentro do parlamentar iniciado em 2016, o Exército ameaçou o STF.

Ele revela ainda uma consulta do então vice-presidente Michel Temer sobre um eventual impeachment de Dilma. Ou seja, Villas Bôas deu o aval das Forças Armadas ao golpe parlamentar de 2016.

Paralelamente ao livro, no último dia 9, o STF concedeu a Lula o direito aos áudios da operação Spoofing. A perícia da Polícia Federal confirmou a autenticidade das mensagens entre a Força Tarefa da Lava-Jato e o então juiz Sérgio Moro - e que foram vazadas e divulgadas em matérias do The Intercept Brasil.

ARMAÇÃO

Nos diálogos fica clara a armação: em 16 de fevereiro de 2016, o magistrado pergunta se os procuradores têm uma "denúncia sólida o suficiente". Ao que o procurador Deltan Dallagnol informa o que pretendem apresentar contra Lula. Enquanto no Congresso Nacional Eduardo Cunha tramava o impeachment por "pedaladas fiscais" e a mídia inflamava a população por denúncias de corrupção - Dilma jamais foi condenada por isso -, na República de Curitiba a trama era tirar o PT da disputa eleitoral de 2018. Porque, garantido o golpe parlamentar - com aval do Exército - os golpistas não entregariam o poder tão cedo.

Os diálogos entre Moro e a Lava-Jato podem anular o processo contra Lula. O STF permitirá ou será ameaçado, de novo, pelo Exército, para a continuidade do golpe?

Jovem assassina pai, mãe e irmã

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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O presidente Jair Bolsonaro voltou a ser criticado na última sexta feira, por ter flexibilizado o uso e compra de armas de fogo através de quatro decretos, reacendendo as discussões dos que são favoráveis ao desarmamento e dos que defendem o direito ao porte de arma.

Este último grupo entende que a quantidade de armas não implica no aumento de homicídios, suicídios, violência geral e doméstica, e ainda, na inexistência de riscos para crianças e adolescentes, na existência de arma em casa.

ARGUMENTOS

Os especialistas entendem que o crime é um "fenômeno complexo e multidimensional", destarte, não existe um fato isolado que possa determinar a criminalidade, muito menos a ligação deste ao porte de arma. Com todo respeito, o momento pelo qual estamos passando, onde o homem parece deslocar seus pensamentos e valores para algo jamais visto, fugindo a tudo o que já presenciamos, tem acarretado um aumento significativo da criminalidade e da violência nos âmbitos familiares, seja pela crise econômica, seja pelas restrições advindas do distanciamento social, seja pela alteração do que realmente tem valor para nós.

O porte de arma não está ligado à criminalidade, e esta não pode ser entendida como violência doméstica, e vice-versa. Esta semana, chocou o Estado a notícia do jovem de 23 anos que teria matado o pai com arma de fogo e depois colocado diesel ao redor da casa, colocando fogo, matando a irmã de 1 ano e 4 meses e a mãe, que foram encontradas carbonizadas, trancadas dentro do banheiro.

A causa da morte da família, segundo entendeu a delegada que apura as investigações, apresenta indícios de dinheiro.

Para os que defendem o desarmamento, esta família poderia ter evitado a morte coletiva se o jovem não tivesse uma arma de fogo; para os que defendem o porte de arma, se o pai possuísse uma arma poderia ter evitado não só a sua morte, mas também a morte da esposa e da filha de 1 ano e 4 meses. Conclusão, a mesma arma que serviu para o jovem matar a família é a arma que poderia ter evitado a morte da família.

Assim, as alterações advindas no decreto publicado pelo presidente Jair Bolsonaro não se aplicam para o aumento ou diminuição de crimes, pois o que realmente vai evitar atos violentos, como estes, é uma conscientização do que conhecemos como valoração, isto é, dar valor ao que realmente importa e pelo qual lutamos diariamente - a vida, já que o resultado morte nesta tragédia não foi a arma nem o diesel que provocou o acidente, mas o valor dado ao dinheiro em detrimento do valor dado à vida de seu pai, sua mãe e sua irmã. 


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