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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff


O que é ciência
Marcio Felipe Medeiros
Advogado e professor universitário

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A definição do que é ciência é complexa, pois cada área de conhecimento organiza o seu fazer científico de um modo particular. Podemos, de forma simplificada, resumir ciência a um conjunto de práticas e valores compartilhados por um grupo científico. A orientação, tanto das práticas como dos valores, está relacionada à compreensão da realidade "natural" a partir da orientação de cada área de conhecimento.

Além disto, a ciência é algo vivo, de modo que postulados e teorias são revisitados e questionados, o que altera constantemente as "certezas" científicas. A ciência, em sua concepção mais prática, evita dogmas absolutos. Qualquer elemento científico pode ser questionado desde que, provas sejam apresentadas. Cada método, valor e ação dentro do universo científico, é fruto de estudo, discussão e análise contínua da comunidade de pesquisadores.

Deste modo, não se pode questionar uma evidência científica sem compreender como a ciência funciona. Para dizer algo cientificamente embasado, existe estudo, experimentos e um acúmulo gigantesco de conhecimento.

ABERRAÇÕES ATUAIS

Atualmente, vários postulados científicos têm sido atacados. Existe o movimento antivacina, o movimento terraplanista (que não raro é possível encontrar grupos que associam os dois). Estes grupos, sem compreender como a ciência funciona e realizando experimentos no fundo de casa, questionam experimentos complexos, dezenas de anos de estudo e milhares de profissionais que dedicaram suas vidas a ciência.

Cada vez mais, a legitimidade da ciência encontra-se em baixa. Em grande medida, pela utilização pública mal feita. Não raro, revistas e jornais postam, de forma sensacionalista, pesquisas em fase inicial como se estivessem prontas. A cura para o câncer já apareceu um punhado de vezes nos últimos 10 anos, todas fruto de pesquisas que apresentaram indícios de eficácia em sua fase inicial, mas que foram tratadas como algo que estaria nas farmácias hoje.

A espetacularização científica, comum hodiernamente, em nada auxilia para a compreensão do que está ocorrendo de fato no universo científico. Pelo contrário, gera uma compreensão equivocada de que, sem compreender como a ciência funciona, posso questioná-la como questiono a opinião de alguém em um bar.

RISCOS DE QUESTIONAR SEM PENSAR

Questionar a ciência de forma inapropriada, pode gerar inúmeros problemas. O que enfrentaremos logo mais será o do grupo antivacina, que através de discursos sem comprovação nenhuma, afirmam os mais diversos absurdos. O grande problema é o efeito, no caso de uma doença tão fácil de espalhar como o covid, e tendo atualmente 9% da população inclinada a não se vacinar, podemos ter um efeito desnecessariamente duradoura da pandemia que nos assola. Portanto, questionar a ciência de forma leviana não é leviano, pode levar a continuidade deste quadro humano e econômico complicado no qual estamos neste momento.




Califado francês
Rogério Koff
Professor universitário

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Na semana passada, um professor francês de 47 anos foi decapitado perto da escola onde lecionava, nas proximidades de Paris. O motivo do crime? Em uma aula de história, o mestre exibiu para seus alunos caricaturas do profeta Maomé. O criminoso, que foi morto pela polícia, se enquadra perfeitamente na definição de um terrorista muçulmano, incapaz de conviver com a liberdade de expressão defendida pelas democracias ocidentais.

Episódios como estes não são isolados na França. Em janeiro de 2015, 12 pessoas foram assassinadas por terroristas islâmicos na sede do jornal satírico Charlie Hebdo. As motivações foram semelhantes: o profeta teria sido ridicularizado. Em novembro do mesmo ano, uma sequência de atentados a bomba e fuzilamentos, onde o ataque mais mortal ocorreu no teatro Bataclan. Resultado: mais de 130 mortos. Em julho de 2016, um caminhão de 20 toneladas dirigido por um terrorista invadiu a orla na praia de Nice, onde o público comemorava o aniversário da Queda da Bastilha: 86 mortos e centenas de feridos.

O que fizeram as autoridades francesas, além de se acovardarem, executarem políticas frouxas de controle da imigração e tolerarem culturas e religiões violentas e atrasadas, ficando à mercê de terroristas fanáticos? Não adianta agora o presidente Macron, que permitiu que seu país se transformasse numa espécie de Califado, "lamentar" a decapitação do professor.

RELATIVISMOS

Multiculturalismo, relativismo moral e pensamento politicamente correto. Esta é a receita para o caos francês e europeu em geral. Enquanto antropólogos defendem que não há um lugar neutro para se julgar a superioridade de uma cultura sobre outra, o Ocidente continuará perdendo a guerra contra o radicalismo islâmico. Por que estes intelectuais não admitem que existem sociedades e crenças religiosas que são simplesmente prejudiciais à vida comunitária e que configuram ameaças à paz? Por que tanta tolerância com intolerantes? Acadêmicos de universidades fecham os olhos para a obrigatoriedade do uso da burca em certas culturas e até mesmo para a prática de mutilação genital feminina. "Não temos o direito de julgar outras culturas", é o que dizem.

Feministas que denunciam machismo em países ocidentais se calam covardemente em relação à violência islâmica.

DOIS LIVROS IMPORTANTES

Há pelo menos dois livros emblemáticos sobre o tema. O primeiro é uma obra de ficção chamada "Submissão", do francês Michel Houlebec. Na trama, o candidato de uma facção chamada Fraternidade Muçulmana vence as eleições presidenciais francesas de 2022 e instaura mudanças sociais dramáticas. O outro, mais recente, é um ensaio do analista conservador britânico Douglas Murray chamado "The Strange Death of Europe" (A Estranha Morte da Europa), ainda sem tradução no Brasil. Duas obras magistrais e perturbadoras, que comentarei mais adiante.

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