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Perdeu a graça, Jair

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A paciência está chegando ao fim. No começo, confesso, até foi divertido. Não vou negar que fiz muita troça das barbaridades da família Bolsonaro e seus auxiliares. Também não podia ser diferente: o riso é reação própria ao absurdo.

Sim, eu tenho um senso de humor meio ácido. Gargalhei muito com os desvarios da ministra Damares, com as boçalidades do ex-ministro Velez, com os arroubos de seu substituto, Weintraub (mais ainda com seus grosseiros erros de matemática básica), e, também, com as fabulosas teorias conspiracionistas do chanceler Araújo.

Mas nada se compara, em termos de comicidade, ao próprio Jair e sua prole. Aqui, devo dizer que não usarei qualquer pronome de tratamento condigno com o posto de presidente para me referir a Jair, pois ele próprio, o Jair, insiste em afastar de si liturgias presidenciais, como quem afasta de si a responsabilidade de ser presidente.

Pois bem, quanto ao Jair, suas transmissões ao vivo pela internet chegaram a me causar espasmos, tal o nível de patetice. Era tudo muito cômico. E o pedido para que as pessoas parassem de fazer cocô? E o vídeo do "Golden shower"? Ah, esse vídeo ficará nos anais do anedotário brasileiro. A propósito, aviso aos amigos bolsonaristas que "anais", no contexto em que uso, significa uma forma concisa de registro da história. Não tem nada a ver com ânus, caso queiram me censurar.

Me diverti, também, com as peripécias de 01, 02 e 03. O quase embaixador e ex-fritador de hambúrguer, que agora quer ser presidente de partido, o vereador que fala em nome do pai pelas redes sociais e o senador, aparentemente mais esperto que os demais, que foge das polêmicas da internet como seu assessor, Queiroz, foge do Ministério Público.

Porém, um dia a piada cansa. O riso que antes se dava pelo inusitado, hoje se dá por puro nervosismo. Nervosismo por nos darmos conta de que estamos num Saara político e institucional. Nervosismo por percebermos que nosso governo usa e abusa da bizarrice para esconder sua total inaptidão para propor ou empreender algo que seja minimamente sério ou útil.

Não há no país, hoje, qualquer diálogo digno acerca dos rumos a serem tomados pelo Brasil, nem do ponto de vista econômico, nem do social, nem do ambiental, nem do urbanístico, muito menos do político. Não há um projeto. Não há nem mesmo um projeto ruim. Não há nada! Debater política hoje se resume a comentar o quão bisonhas têm sido as manifestações do alto escalão federal.

Enquanto isso, estamos nos isolando do mundo. Nossa Previdência foi implodida. Nossa Amazônia está entregue a madeireiros. Nossas praias estão imundas de óleo. Nossa economia está em frangalhos. Nossas instituições estão em corrosão. Nossa indústria alienada ao capital estrangeiro. E o presidente, o que faz? Publica na internet um vídeo em que se compara a um leãozinho. Chega, Jair, já deu. Nem teu partido te leva mais a sério. Vai trabalhar, Jair!

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