opinião

OPINIÃO: Um banquete cultural

Em menos de uma semana, eu já li mais de 20 livros de uma seleção de mais de 500 adquiridos para uma ação muito especial que inicia na cidade. Eu li histórias de autores nacionais e internacionais de uma qualidade tão fantástica que é impossível você situar para uma faixa etária. Como diz um amigo que anda pelo mundo promovendo leitura, existe livro bom e livro ruim, as duas categorias capazes de definir uma publicação.

Orie, de Lúcia Hiratsuka: uma emocionante história da menina que descobre o mundo a sua volta num passeio de barco com os pais. As ilustrações são uma obra de arte à parte, de encher os olhos de qualquer criança (inclusive as da minha idade). E o que dizer de A Raiva, dos premiados Blandina Franco e José Carlos Lollo, que, com muito bom humor e ilustrações sensacionais, contam como um sentimento pode crescer e tomar conta de cada um? Escrito em 2014, conquistou o mais importante prêmio literário do Brasil em 2015, o Jabuti. Consta como infanto-juvenil, mas eu achei profundo e verdadeiro para qualquer idade. Tão atual nesses tempos de raiva fácil.

Foi um final de semana intenso. Um encontro inesquecível com tanta gente que deixou e deixa marcas profundas em quem se aventura por seus escritos. Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Tim Burton, Monteiro Lobato, Marina Colasanti, Moacir Scliar e outras dezenas. Textos aparentemente simples, ou livros sem textos, mas de uma profundidade que é preciso ser criança para entender. Adulto categoriza, critica, disserta, tem sempre que colocar num quadrado. Mas li como criança. Ou tentei.

Não raras vezes senti uma paulada na moleira, como diz o ditado, ou a emoção de uma lembrança. Ri várias vezes, senti as lágrimas no cantinho do olho outras tantas. Conheci a Orie e aprendi tanto com a sua inocência. Esperancei, sim, do verbo esperançar, com a honestidade do pequeno chinês Ping e me entristeci com a soberba moderna dos dois idiotas sentados cada qual no seu barril... de pólvora!

É certo que sou melhor hoje do que na terça passada, com um pouquinho mais de bagagem cultural. E aí me lembrei do que o Maurício Leite - o Homem da Mala Azul - tantas vezes repete nas suas conversas. A leitura te traz conhecimento e o conhecimento te dá o poder de ser quem você é, de poder decidir o que você quer ser. A gente precisa ler mais. A gente precisa aproximar os livros das crianças, não por obrigação, e sim por paixão.

Um ser humano médio tem um vocabulário aproximado de mil palavras, isso já no final de sua vida. Sabe quantas palavras tem o dicionário de língua portuguesa? 450 mil! É como se eu estivesse na frente de um imenso banquete e ficasse só com a entrada. Tão perto, tão distante. Pense um pouco, quem tem mais poder: uma pessoa com um mísero vocabulário de mil palavras ou a outra com 4 mil, considerando o banquete? Talvez isso explique o pouco incentivo à leitura em nosso país. A quem interessa ter um povo culto? O nosso país, no geral, lê muito pouco. Quase 50% dos brasileiros não leem, mais de 30% nunca compraram um livro. O diagnóstico é grave, mas a doença tem cura. Imagina se o povo descobre esta fonte do conhecimento, do poder de si mesmo?

Promover leitura, fazer com que o livro chegue nas mãos das crianças, mais do que isso, que elas leiam, que elas gostem, é um trabalho de formiguinha, mas que pode representar um grande avanço para todos nós. Sempre é tempo de começar. Vem aí a 45ª edição da Feira do Livro de Santa Maria, com um grande banquete cultural. Sirva-se!

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Processar Anterior

OPINIÃO: Processar

OPINIÃO: Espaços Próximo

OPINIÃO: Espaços

Colunistas do Impresso