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OPINIÃO: Sobre patriotismo, povo e identidade


O patriotismo é um sentimento positivo e disso não tenho nenhuma dúvida. Para deixar bem clara minha linha de pensamento, explico que patriotismo nada mais é do que a devoção a uma pátria e seus símbolos em função de um sentimento legítimo e espontâneo de pertencimento ao povo que o forma.

Creio ser importante destacar esse ponto: uma pátria é formada por pessoas que se identificam como integrantes de um mesmo povo, que habitam um território próprio e sob a dirigência de instituições por elas legitimadas. Dito isto, tem-se que uma pátria é essencialmente um povo. Ser patriota, então, é identificar-se com esse povo, sentir-se a ele pertencente e por ele nutrir alguma devoção ou pelo menos gratidão.

Neste contexto, o sentimento de patriotismo é positivo na medida em que estimula a cooperação espontânea entre indivíduos que se unem em espírito cívico, que se reconhecem como membros de um mesmo grupo, que se veem acolhidos uns pelos outros e que, justamente por isso, tomam como dever retribuir esse acolhimento.

Patriotismo, então, é algo muito mais profundo do que simplesmente cantar o hino na escola ou abanar bandeirinhas coloridas em datas cívicas. Aliás, papagaios já nascem em verde e amarelo e podem ser ensinados a cantar o hino nacional, mas isso jamais fará deles patriotas.

Soa ridículo, então, crer que mandar e-mails para escolas cantarem o hino nacional seria uma iniciativa válida de estímulo ao patriotismo no Brasil. É ainda mais ridículo perceber que o Ministro que mandou tais e-mails, Ricardo Velez, se tornou célebre por poucos dias antes dizer pública e irresponsavelmente que o "brasileiro é canibal" e que "quando viaja, rouba coisas dos hotéis".

É que, pelo visto, Velez não se enquadra no conceito de "brasileiro", o que, na verdade, não é exatamente algo novo por aqui. A noção de identidade nacional nunca foi o forte das elites brasileiras, que teimam em se identificar com europeus e costumeiramente se referem ao "povo brasileiro" na terceira pessoa do plural, como se dele não fizessem parte.

Sobram, então, adjetivos rudes e termos pejorativos para desqualificar o povo, sua arte, suas festas e sua cultura. Não à toa nosso presidente preferiu ignorar milhares de imagens bonitas de nosso carnaval e postar em suas redes sociais um vídeo escatológico, registrado não se sabe por quem, não se sabe onde, nem se sabe quando, dando a entender que, para ele, nossa maior manifestação cultural não passa de uma sodomia de proporções continentais.

E, por isso, as exortações ao "patriotismo" de nossos dirigentes ganham ares de patacoada, de simulacro. Não se pode amar uma pátria sem amar seu povo, com todas as suas virtudes, defeitos e idiossincrasias. Estimular o patriotismo é estimular a devoção ao povo. É direito de qualquer um não gostar de seu próprio povo, mas não pode este vir a fingir patriotismo. Fica feio. Fica "fake".

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