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OPINIÃO: Mesmas regras para todos ou não venceremos a crise



Da pena de Maquiavel até a boca de caudilhos do passado brasileiro uma afirmativa foi repetida em diferentes versões: "aos amigos, os favores, aos inimigos, a lei"; ou "para os amigos tudo, para os inimigos os rigores da lei" ou ainda "para os companheiros, os favores da lei, para os adversários, os rigores da lei". O genial italiano orientava (ou ironizava?) um príncipe. Os daqui verbalizaram uma maneira de pensar e de agir até hoje disseminada.

Na atualidade, sentimos essa postura: os "nossos" podem, os "deles" não; para nós é permitido, para eles é proibido; punam-se eles, não os meus (familiares, amigos, correligionários...). A mesma conduta reprimida, se for de outros, é justiça sendo feita, se for dos parceiros é perseguição.

A maioria dos indivíduos age assim quando um familiar ou pessoa próxima comete ato que nos desconhecidos ou distantes ele cobraria punição.

Cada agrupamento social ou corrente de opinião protege os seus, atribui a eles um comportamento não suscetível a erros ou desvios, um "habeas corpus" permanente. Quanto mais arraigadas as convicções e radicalizadas as posições, mais este julgamento comprometido e parcial predomina. O ovo jogado por este é uma atitude de justa irresignação, já o ovo jogado por aquele é um atentado criminoso. Quantos hoje no Brasil são favoráveis à punição dos adversários e exigem a absolvição dos companheiros por idênticas práticas delituosas? Quantos acreditam que as leis quando rigorosas aplicam-se somente aos outros, aos inimigos?

É cultura consolidada no convívio pessoal, no futebol, na política, nas grandes questões comunitárias. A mão na bola do meu time não foi pênalti, a do adversário tem de ser punida... O meu companheiro não deve ser processado, o oponente, sim, mesmo que ambos tenham cometido idêntico ato contra a lei.

Num Brasil que vive tempos de divisão profunda e radicalização, este tipo de comportamento em relação aos "nossos" e aos "deles" transforma-se num sentimento coletivo de grandes agrupamentos e gera uma miopia diante da realidade.

Construir saídas para a crise brasileira ou mesmo para nosso caótico convívio social e comunitário necessitará repensar tal postura. Desde o indivíduo em casa: o que é vedado ao filho do vizinho é também proibido ao meu filho, se é permitido a familiar meu, deve sê-lo para outra pessoa, não posso exigir tratamento diferenciado. E de cada um para os grupos, as torcidas, os partidos, as coletividades. As regras são para todos. A proteção legal ou a punição legal, também.

Somente mudando nosso comportamento estaremos dando passos significativos para construir uma sociedade melhor e gerar instituições respeitáveis. Na vida social, econômica e política não podemos continuar defendendo que o gol com a mão do nosso time de futebol foi válido e assim impedindo um saudável convívio comunitário e a construção de caminhos de justiça, paz e desenvolvimento. Enquanto os "nossos" estiverem sempre certos, independentemente do que façam, o caos será o que aí está.

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