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OPINIÃO: Jane em Paris

De volta a Paris, saio a caminhar e, de repente, lá vem ela pela rua, como se fosse ao meu encontro. De verdade, pois o tempo é ficção.

Perdoem se me repito, mas lá estava ela, Jane Catulle-Mendès, caminhando pelo bulevar em uma tarde de sol. Senti uma vontade danada de lhe dizer que tenho em Tiradentes, entre meus livros, um exemplar do La ville merveilleuse - Rio de Janeiro - Poèmes, publicado pela E. Sansot, sem data.

Um livro jamais reeditado. Uma coletânea de poemas no qual a expressão cidade maravilhosa - ville merveilleuse, repito - refere a cidade de ouro que era, para Jane, o Rio radiante. Cidade de estrelas e beleza, como ela diz em um deles.

Batizada Jeanne Mette, é conhecida pelo nome que adotou quando do seu casamento, Jane Catulle-Mendès. Nasceu em 1867, partindo de nós em 1955, embora volta e meia retorne aos dias de agora, como há pouco aconteceu. Seu marido, o poeta Catulle Mendès, já se fora quando ela, de 20 de setembro a 6 de dezembro de 1911, esteve no Rio de Janeiro. Uma cidade como que bem nova (mas sempre maravilhosa!) após a então recente reforma urbanística de Pereira Passos.

Recebida de braços abertos, brilhou fazendo conferências, uma delas no Teatro Municipal, Les femmes de lettres françaises.

Em seu primeiro poema no La ville merveilleuse ela descreve sua chegada de navio à Baía de Guanabara afirmando que jamais tantos esplendores deslumbraram seus olhos. Um Rio de Janeiro deslumbrante, cidade doce e briosa, de semblante dourado. Linda desde então, por conta do que aquela canção do Gilberto Gil afirma que o Rio de Janeiro continua lindo! Une cité voluptueuse et tendre - voluptuosa e tenra - já dizia esta mulher que agora acompanho em sua caminhada pelo bulevar.

Ainda que se afirme que a expressão "cidade maravilhosa" tenha sido usada em jornais antes da sua viagem ao Rio, o fato é que nenhum livro antes do seu a utilizara. Por isso ouso afirmar que sua madrinha é Jane!

Os braços de Paris agora a abraçam, mas é, de repente, como se ela retornasse à nossa terra de amores, alcatifada de flores, a cantarolar aquela canção pelo Realengo, ao lado da torcida do Flamengo!

Sinto uma vontade danada de lembrar agora a Sarah Bernhardt. Uma francesa que me encanta e lá esteve também, quase à mesma época, mais de uma vez. O espaço que me resta agora, neste meu texto quinzenal, não me permite. Além de tudo porque, se trago Sarah também aqui ao bulevar, uma outra mulher formidável há de aparecer entre nós, Adrienne Lecouvreur. Bastaria o quanto escrevi a respeito dela no meu Paris, quartier Saint-Germain-des-Prés?

Não sei, realmente. Conversaremos mais tarde, as três, Tania e eu, em nossa mesa no Flore.

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