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OPINIÃO: Direita, esquerda, sociologia e estupidez

Max Weber, Emily Durkheim e Karl Marx são conhecidos como "os três porquinhos da sociologia". O apelido é carinhoso e se dirige aos três por serem maiores expoentes dessa área das ciências sociais e humanas. À exceção de Marx, ícone do pensamento de esquerda, jamais os dois primeiros poderiam ser tidos como esquerdistas.

Max Weber foca seus estudos no desenvolvimento de Estados capitalistas, aliás, a essência de suas análises é justamente a criação e o bom funcionamento do capitalismo moderno. Durkheim, por outro lado, parte de uma análise da sociedade sob um ponto de vista conservador. Crítico do individualismo, Durkheim entendia que a sociedade é quem dá sentido ao cidadão, razão pela qual, para Durkheim, as liberdades individuais não podem se sobrepor ao senso coletivo.

Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto também eram sociólogos. Na Itália, elaboraram a chamada Teoria da Circulação das Elites, que influenciou boa parte do pensamento de direita na Europa do Século 20 e até mesmo economistas da escola neoliberal austríaca, como Hayek e Schumpeter.

Na sociologia brasileira, Gilberto Freyre (não confundir com Paulo Freire) é dos nomes de maior vulto. Ufanista, emprestou apoio especial ao Golpe de 1964 e manteve fraterna amizade com Golbery do Couto e Silva, figura de relevância no Regime Militar. Aliás, o próprio Golbery, gaúcho de Rio Grande, também um notório estudioso das humanidades.

Raymundo Faoro, advogado e sociólogo nascido em Vacaria, não era um entusiasta do Regime Militar como Freyre, mas muito menos um marxista. Como weberiano que era, se propôs a estudar o capitalismo brasileiro sob uma perspectiva liberal. Em suas obras, uma ode ao liberalismo, além de fortes críticas à burocracia brasileira. Para Faoro, o Estado, ao invés de impulsionador, é um intransponível obstáculo ao desenvolvimento de uma economia capitalista no Brasil.

Todos estes são estudados à exaustão nas faculdades de sociologia do Brasil. Aliás, Oliveira Vianna, Hélio Jaguaribe e Fernando Henrique Cardoso são outros sociólogos brasileiros muito estudados nas universidades que derrubam a tese hoje largamente difundida por setores mais radicais da direita, coincidentemente próximos ao Governo Federal, de que a sociologia é terreno aparelhado pela esquerda. Não é. Nunca foi. Pelo contrário.

Não é novidade que esses setores mais radicais e o governo nutrem pouco apreço pelas ciências, em especial pelas humanas. A sociologia, inclusive aquela feita por pensadores de direita, busca explicar e resolver as complexidades da sociedade, o que, convenhamos, não é bem aceito por quem prefere acreditar em verdades próprias, em mitos e outras bobagens do tipo. O ataque à sociologia não é um ataque à esquerda, mas à ciência e à inteligência.

Eis meu receio. Na atual luta entre a ciência e a estupidez, a segunda tem mais chance de prosperar. Isso porque a ciência tem limites e pode ser cortada pelo governo. A estupidez não. Einstein já dizia isso. Mas Einstein era cientista. E hoje em dia, quem ouve cientistas?

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