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OPINIÃO: Desesperem-se. Não temos um plano!

Em 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder e governou o país com mãos de ferro, mas não quero aqui entrar no mérito quanto à sua pessoa. Sem descuidarmos dos fatos, Vargas pode ser desenhado, tanto como herói nacional, quanto como um ditador fascista, e não serei eu a entrar nessa polêmica, pelo menos não agora. Um mérito, todavia, não se pode lhe tirar: Vargas tinha um plano.

Ao assumir o poder, Vargas abraçou o objetivo de alavancar a indústria e o fez a partir do Processo de Substituição de Importações - PSI, um plano que consistia, a grosso modo, na estruturação de uma indústria voltada ao mercado interno. Associado a leis trabalhistas que profissionalizaram a mão de obra e deram poder de compra ao trabalhador urbano, o plano de Vargas deu muito certo. Durante a década de 1930, a indústria brasileira cresceu em média 5,2% e o PIB 4,6% ao ano. Em 1948, durante o governo Gaspar Dutra, foi gestado o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), que foi um relativo fiasco, mas teve o mérito de chamar atenção para setores da economia antes ignorados. Justamente por isso, esse plano serviu de base para o posterior "Plano de Metas", de Kubitscheck, vulgarmente chamado de "50 anos em 5".

Este sim, um sucesso. O resultado? Um crescimento médio anual de 15,2% da produção metal-mecânica e de 8,5% da produção industrial total. Instalada a ditadura militar em 1964, concebeu-se um novo plano: investir fortemente no parque industrial e em reformas de infraestrutura, o que, aliado a regras de facilitação da entrada de capital estrangeiro, gerou uma enxurrada de dinheiro internacional no país. Deu-se o "Milagre Brasileiro" e, entre 1968 e 1973, o PIB cresceu em média 10% ao ano. Esqueceram-se os militares, no entanto, do trabalhador urbano, que teve salário achatado, e do rural, que, desassistido de qualquer política pública, evadiu em massa para a cidade. Esqueceram, também, que dinheiro que entra fácil, sai fácil. Foi o que aconteceu.

Entre a segunda metade da década de 1970 e a década de 1980 não tivemos qualquer plano que merecesse menção. Nossa estagnação nesse período não se deu por acaso, aliás, é bom que saibamos que nada em política ou economia ocorre por acaso. Nos anos 1990, o exitoso Plano Real, que não era exatamente um plano de desenvolvimento, mas monetário, pôs fim à absurda inflação dos anos anteriores e, na década seguinte, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aliado a uma inovadora política de distribuição de renda e crédito, ajudou o país a experimentar um período de significativa prosperidade. Não quero jogar confete sobre os planos que mencionei. Nenhum deles era maravilhoso, perfeito ou definitivo. Tiveram falhas, eu sei. Mas sustento que o país só avançou, mesmo que de maneira torta, quando teve um plano. E agora? O que temos? Nada! Absolutamente nada. Nós não temos um plano. Nenhum. Nem mesmo um ruim. E isso é desesperador.

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