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OPINIÃO: Calçadas

Os movimentos coletivos que têm se apresentado ao ensejo das eleições que estão cada vez mais próximas necessitam ser dosados. Ainda que em dialetos distintos, falam o mesmo idioma, clamando por um país desenvolvido social e economicamente, de oportunidades de crescimento pessoal ao alcance de todos, segurança para as pessoas, assistência de saúde a contento e educação forjadora de cidadãos livres e conscientes. Notadamente, o problema não está no que é desejado, pois todos suplicam em identidade por vida digna e decente. O problema está no volume empregado à forma como estes desejos têm sido defendidos. A gritaria e a ofensa fazem ininteligíveis ambos os lados, embora seja impossível não ouvi-los. É desalentadora a divisão entre compatriotas que, todos os dias, não só nutrem, justamente, os mesmos anseios, como, na sua espera, sucumbem às mesmas dificuldades, às mesmas vicissitudes.

O que bem raciocinado e encarado como inimigo comum de toda uma população serve, tristemente, como munição logo contra o sujeito ao lado, o concidadão. Se é razão de desgraça a hostilidade entre nações distintas, tão ou mais nefasta é aquela instaurada no seio de uma única nação. Para o mal da divergência exasperada não há eleição que resolva imediatamente, ou mediatamente, os infortúnios de um país cujas vísceras estejam expostas ao ambiente contaminado.

A existência de vitoriosos pressupõe que haja derrotados e a de vencedores, vencidos, que invariável e inevitavelmente, após a disputa, caminharão pelos mesmos traçados, em mesma trajetória, de idênticas condições de pavimentação, para o mesmo norte. Todos se encontrarão e se olharão nas mesmas calçadas. Sequer caminhar é faculdade de quem está inserido no contexto inevitável da sociedade, sendo assim, mais que interesse, obrigação de cada um a garantia de que todos poderão dar seus passos sem empurrões ou mesmo perigos de tropeços.

O método de convivência nas sociedades e países que admiramos, e por vezes até invejamos, é o da exposição, nunca o da imposição. A história, que repito, é a mãe de todas as ciências, nos mostra e ensina que a união de uma nação se consolida diante do enfrentamento de um inimigo comum, muitas das vezes até mesmo outra nação. Nós, daqui, somos pródigos em inimigos comuns que, por internos, não demandam muita procura: nossas carências, deficiências e necessidades de toda ordem, presentes em todos os lugares. Eis contra o que podemos concentrar esforços e externar ojeriza sem pudor algum.

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