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OPINIÃO: A polícia e as suas peculiaridades

Foi com grande surpresa e lisonja que recebi o convite do Diário de Santa Maria para integrar a equipe de colunistas. O desafio está proposto e dedicar-me-ei para corresponder às expectativas. Policial Federal durante grande parte da vida (recentemente aposentada), atualmente me dedico aos estudos e à docência acadêmica em Direito. Ao longo de minha carreira policial, sempre procurei desempenhar as atividades propostas com dinâmica, integridade e urbanidade e, assim, contribuir para a construção da reputação dessa instituição, tida como a maior responsável pelo combate à corrupção em nosso país e com o mais alto grau de credibilidade perante à população. É justamente sobre as peculiaridades dessas funções que teço as minhas primeiras linhas neste meio de comunicação.

Admiro e respeito todas as carreiras relacionadas ao Direito e procuro sempre observar quanto a elas a "Teoria da Mente", entendida como a habilidade de compreender que possuímos visões, desejos, intenções e conceitos distintos, mas que sempre é possível representar o seu estado mental. Em palavras mais simples, é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. No entanto, percebo que quando se trata da segurança pública, esse comportamento nem sempre é recíproco. Há os que não entendem - ou sequer percebem - que a carreira policial é extremamente peculiar: ao mesmo tempo em que se faz necessário o constante estudo e aplicação do Direito (mesmo que nem sempre tenhamos formação jurídica) e somos instados a nos adaptar a um incontável e necessário número de garantias: do preso, da vítima, do advogado, da família, do adolescente infrator, etc, também temos o dever de fazer o serviço pesado. Viajar durante a madrugada para deflagrar operações ao raiar do dia, cumprir busca e apreensão em locais absurdamente inóspitos, lavrar flagrantes por noites a fio, ouvir diversos impropérios, enfrentar situações de perigo, sofrer quando nos deparamos com a fome, com a miséria, com a drogadição. Todos esses episódios nos causam sofrimento físico e mental e no mais das vezes culminam em adoecimento. Estudos recentes demonstram que cerca de metade dos policiais sofrem de dores musculares crônicas e enxaquecas provocadas pela tensão e que uma parcela ainda maior tem sintomas de sofrimento psíquico, como insônia, tremores e intenções suicidas. Ainda assim é ínfimo o número dos que se afastam da profissão. E por que(m) o fazemos? Por todos! Pela sociedade, por nós mesmos, por nossos filhos, pelos filhos dos outros, pelos colegas causídicos... Então, ao invés de perdermos tempo apontando os defeitos, as eventuais - e muitas vezes supostas - falhas (da Polícia, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público ou qualquer outro órgão/pessoa com atuação jurídica), trabalhemos em conjunto, aparando arestas, trocando ideias, buscando melhorias. Sejamos menos críticos e mais parceiros. Sejamos menos austeros e mais coerentes. Para além do obrigatório respeito ao imprescindível papel que cada um desses profissionais e respectivas entidades desempenham, um bom relacionamento e uma generosa pitada de boa vontade, por óbvio, se traduziriam em muito mais produtividade. A sociedade agradeceria!

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