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OPINIÃO: A eternidade e Auguste Blanqui

Um dia destes aqui mesmo lembrei que, pouco antes de partir deste mundo, Stephen Hawking publicou um artigo a propósito da existência de inúmeros outros universos paralelos a este em que estamos. O que concebemos como nosso universo, diz ele, é uma fração do multiverso. O Stephen há de ter lido um pequeno livro de Auguste Blanqui que tenho nas mãos agora. Certamente. Preso inúmeras vezes - passou 37 anos na prisão - Blanqui foi levado ao calabouço do Forte de Taureau em 1871, onde escreveu L'éternité par les astres. Um livro encantador, em especial em sua última parte, que fascinou Baudelaire e Walter Benjamin.

Lê-se em uma carta por ele - Benjamin - enviada a Max Horkheimer o seguinte trecho: "Durante estas últimas semanas, tive a sorte de ter um encontro raro cuja influência será determinante para o meu trabalho; dei, por acaso, com um dos últimos textos de Blanqui escrito em sua última prisão, o Fort de Taureau. Trata-se de uma especulação cosmológica. Denomina-se a eternidade conforme os astros e, que eu saiba, até agora não se lhe prestou nenhuma atenção". É bem verdade. Mesmo nas pequenas biografias de Blanqui encontradas na chamada internet esse seu livro é como que ignorado. Leio no final do seu texto o quanto brevemente tentarei reproduzir. Todo astro existe, no tempo e no espaço, em número infinito. A Terra é um desses astros, portanto todos os seres humanos são eternos em cada segundo da sua existência.

O que eu escrevo neste momento numa cela forte de Taureau - transcrevo literalmente este trecho - eu escrevi e escreverei através da eternidade, em uma mesa, com uma pluma, em circunstâncias similares. E assim era e será para os demais homens. O novo é sempre velho e o velho é sempre novo. Somos não apenas imortais, mas também eternos. O número de nossos sósias é infinito no tempo e no espaço. Somos sempre e para sempre todos nós. A vida inteira do nosso planeta, desde o nascimento até a morte, desenrola-se, dia após dia, em miríades de astros-irmãos. O universo repete-se a si mesmo infindavelmente, em torno de si.

A eternidade joga no infinito, imperturbavelmente, as mesmas expressões e sensações. Que loucura, hein! Ou talvez, contraditoriamente, quanta lucidez! Porque tudo será sempre, de novo, agora e sempre - ainda que esta minha afirmação contrarie uma canção do Nelsinho Motta, que não me canso de mencionar em meus artigos no aqui - como foi um dia. Foi não, está sendo, será. Daí que de repente percebo, dou-me conta de que somos todos infinitos e eternos.

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