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O que os olhos não vêem

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O Brasil assiste com perplexidade o amadorismo com que está sendo tratado o despejo criminoso de petróleo nas praias do nordeste brasileiro. A onda negra alcançou 2,5 mil km de costa e com voracidade se estenderá ainda mais. Mais uma tragédia ambiental em uma nação combalida por Mariana, por Brumadinho, pelo fogo e pelo desmatamento. Vemos legiões de desesperados e despreparados recolhendo manualmente o óleo, em uma tentativa desordenada e irracional de limpeza. Manipular este óleo sem nenhuma proteção, ou insuficiente, é assinar a certidão de óbito. As ações governamentais mostradas pela imprensa reforçam a negação das políticas ambientais e o desmonte do setor. As ações têm a clara intenção de tapar o sol com a peneira, espalhando uma cortina de fumaça com acusações vazias, levianas e cheias de ódio.

A legião de atingidos só aumenta, fazendo valer as previsões de crescimento dos refugiados ambientais - vítimas de tragédias e das mudanças climáticas. As tragédias ambientais agravam as tragédias sociais, acentuando as desigualdades. O modelo de desenvolvimento vigente considera apenas o aspecto econômico. Voltamos aos primórdios - lucro a qualquer custo! Pagamos esta conta com o capital mais valioso, o capital natural. O petróleo e o carvão são mais lucrativos se mantidos embaixo da terra e do mar. O petróleo, em sua composição, possui compostos voláteis, os quais pela ação da temperatura poluem a atmosfera e contribuem para o aquecimento global, além de provocar intoxicações graves. Metais, muitos deles, pesados e de efeito cumulativo, também estão presentes. Estes metais permanecem nos pequenos fragmentos de óleo sendo ingeridos por peixes, crustáceos e moluscos, que ao serem consumidos ocasionam diversas doenças. Estes compostos também interagem com o meio, alterando as condições que garantem a vida para muitas espécies.

O petróleo também é rico em hidrocarbonetos, no caso em questão, a concentração de compostos aromáticos pesados é elevada. Eles são altamente tóxicos, responsáveis pelo aparecimento de muitas doenças, inclusive câncer. Retirar o óleo não garante a eliminação da poluição. Ao longo do tempo e, sobretudo no mar, as manchas vão se fragmentando em partículas cada vez menores, imperceptíveis a olho nu. Porém, inúmeras reações químicas continuarão ocorrendo. A lavagem de animais, corais e rochas feita com detergentes, mesmo biodegradáveis, não é inócua. O efluente da lavagem, se não tratado, irá poluir outros locais. O mesmo ocorre com o óleo recolhido e depositado em outras áreas. A poluição do mar e das praias está sendo transferida de um lugar para outro. As manchas são a poluição que se vê. A poluição que não se vê permanecerá atuando e estendendo o seu rastro de destruição e miséria por décadas e séculos. É essencial repensar o "progresso", pois pagar com a vida, com dor, com desigualdade é injustificável

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