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O adeus da linda bromélia-imperial

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Há temas instigantes, neste tempo especial: a eleição nos Estados Unidos, o mundo pós-pandemia, a situação econômica do Brasil. Esses e outros, por certo, dariam um bom texto-cabeça. Renderiam um olhar mais atento ao cronista. Talvez. Hoje, no entanto, me aquerencio só no bonito e no prazeroso ao contemplar uma grande, encantadora e surpreendente bromélia. Ela se faz presente, no jardim, frente à minha casa. É planta tipicamente brasileira. E linda!

Diariamente, aí pelas seis horas e pouco, acordo e, antes de tudo o mais, caminho em busca dos meus jornais diários. Aí acontece o milagre, o encontro com duas bromélias, uma delas gigante, com um nome especial, que a distingue das coirmãs ao se chamar majestosamente de bromélia-imperial. Depois, só depois, cumpro a liturgia cotidiana de pegar o Diário e a Zero Hora, lançados por cima das grades, na frente da minha casa, por um fiel e zeloso entregador de jornais.

Confesso que não sei até quando vou desfrutar do privilégio de ler notícias impressas, enquanto tomo meu café da manhã. Há quem diga que os dias estão contados. Acredito também nisso. Entregadores de jornais e idosos, com mordomia de saborear notícias assim, já são espécimes em extinção.

Mas, volto à bromélia que me encantou desde o primeiro momento e, há anos, me seduz. Lembrei-me do que já ouvira: ninguém ama a quem não conhece e também não se esquece de quem ama! Nós, humanos, somos assim. A conquista do verdadeiro e autêntico amor não acontece como um fazer café instantâneo. O amor se assemelha mais com o fazer de um risoto gostoso, tipo a minha nona fazia e a Eunice hoje faz. Não é qualquer arroz, não é qualquer galinha, não é qualquer queijo ralado, no final, que faz a diferença. Por isso, cada risoto à italiana é como as amizades com as flores e os animais. Elas nascem aos poucos, depois se intensificam, aquecem e alimentam, dão sabor à vida. Se você tem um gatinho ou uma cachorrinha, a quem certamente deu um nome especial, sabe muito bem do que estou falando.

Pois, hoje, canto o encanto de uma bromélia, a imperial. Há uma razão especial para o meu canto e a minha tristeza. Depois de muitos anos, ela cria um pendão floral, alto e bonito, um brinde a mim e aos passantes, na rua onde moro. É um pendão multicolorido, exuberante. Misteriosamente é o anúncio da sua morte. Depois do espetáculo, fecha o palco. Assim consta nos anais da sua vida. Há anos, no jardim, agora vive o seu entardecer. Dentro de pouco tempo, quem sabe nos próximos 60 dias, morrerá. As bromélias-imperiais têm essa história. No meu celular e na minha memória guardarei a sua beleza. Continuarei a buscar o Diário e a Zero Hora, mas sem o prefácio do olhar à bromélia-imperial. Como é difícil perder uma amiga de tanto tempo. Plantarei uma outra, porque o bonito não pode, não deve morrer

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