colunista do impresso

Neorevolta da Vacina

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

O ano é 2020 e existe uma vasta e mortal pandemia. Infectou milhões de pessoas. Estima-se que o número de mortos esteja viciado pelas subnotificações, tornando-a uma das epidemias mais mortais da história da humanidade. Para manter o ânimo, alguns governantes minimizaram os primeiros relatos de doenças e sua mortalidade.  A maioria dos surtos de gripe mata desproporcionalmente os mais jovens e os mais velhos, com uma taxa de sobrevivência mais alta entre os dois, mas essa pandemia resultou em uma taxa de mortalidade acima do esperado para adultos jovens, pois se imaginava que apenas idosos e pessoas com comorbidades corriam riscos. O negacionismo científico impera, especialmente em sociedades como a brasileira. O número de contaminados aumenta progressivamente e o número de óbitos consequentemente. E ainda alguns governantes estimulam que a economia não pode parar. A população economicamente menos privilegiada por uma questão óbvia é a que mais sofre.

Sabe qual o erro desse parágrafo anterior? É que apenas troquei a data de 1918 por 2020. É! Pasmem! Eu não estou narrando aqui o comportamento humano (governos e pessoas) e as consequências disso, embora pareçam familiares, da Covid-19. Eu estou narrando os dados históricos da Gripe Espanhola da 1918. E o que podemos constatar disso? Que algumas fragilidades humanas, mesmo depois de 102 anos continuam a se repetir. Como a ganância, as disputas políticas por poder, a falta de solidariedade e de empatia para com o próximo; e talvez a pior delas... o negacionismo científico. Como o movimento antivacina e as graves consequências desse estimulo, especialmente por parte do atual Governo federal. Esse descabido ataque à ciência, sem contar o atrito diplomático por questões ideológicas com uma grande potência como a China por exemplo, já custou a vida de milhares de brasileiros e sequelas em tantos outros sobreviventes. E ainda perguntam ao povo: Por que a ansiedade pela vacina? Tudo isso lembra muito a Revolta da Vacina de 1904. 

A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido entre 10 e 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas. O estopim da revolta foi a publicação de um projeto de regulamentação da aplicação da vacina obrigatória no jornal. Um grupo de militares, com o apoio de alguns setores civis, tentou se aproveitar do descontentamento popular para realizar um golpe de Estado na madrugada do dia 14 para o dia 15 de novembro, que, no entanto, foi derrotado. Milhares de pessoas seguiram sendo contaminadas por esse motivo e agravando a saúde pública da época. A diferença é que estamos em 2020 e com todo o avanço científico, o Governo Bolsonaro ainda se comporta como parte da população de 116 anos atrás. Triste realidade.

Com mais de 187 mil mortes por covid-19 e com a perspectiva de frear a pandemia com alguns imunizantes em negociação, o Brasil vê a resistência à vacina crescer. Desconfiar das vacinas ou não aderir às campanhas pode levar a perdas irreparáveis. Diante desse cenário, o Supremo Tribunal Federal brasileiro decidiu recentemente que estados e municípios podem criar leis de obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus e definir restrições a quem desobedecer. O resultado foi criticado obviamente pelo presidente Jair Bolsonaro, que já disse publicamente que não irá se vacinar e pretende exigir termo de responsabilidade de quem tomar vacina. Esse comportamento irresponsável estimula muitos brasileiros a fazerem o mesmo. Nas palavras do grande filósofo Sócrates: "A vida sem ciência é uma espécie de morte". Pense nisso. 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Queridos filhos, queridas filha e neta Anterior

Queridos filhos, queridas filha e neta

Natal Próximo

Natal

Colunistas do Impresso