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Minha casa, meu forte

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Como muitos, uso o isolamento social para coisas que há tanto mereciam atenção, mas que a falta de tempo não permitia. Nelas, estava organizar livros. Dada a oportunidade pus-me em ação e descobri uma maravilha que serve para nossos dias.

O livro que motivou esta coluna é O Deserto dos Tártaros. Ganhei um exemplar da 1ª edição de 1940 na Itália, no Natal de 1995. Uma obra-prima de Dino Buzzati, advogado de formação, jornalista e escritor de profissão, atuou por 40 anos no jornal Corriere De La Sera de Milão. Lá se aposentou como redator-chefe, e foi naquela redação que teve a ideia do livro por temer a obscuridade, e ter sua obra lida por poucos, o que ocorrera com as anteriores.

Este livro conta a vida de jovens oficiais que se gastam em um solitário forte de fronteira, esperando o ataque inimigo. E mais, mostra a angústia, a resignação e a solidão do ser humano, incapaz de escapar do destino.

O texto tem um clima misterioso e angustiante, fala de Giovanni, um militar de carreira, transferido para o remoto Forte Bastiani. Situado numa região montanhosa e defronte a um deserto, ele já foi uma importante defesa contra os tártaros, mas agora sua única função é aguardar a volta do inimigo. O protagonista passa os dias olhando o horizonte de cima das muralhas, ansiando pela batalha que  justificará sua vida e o tornará herói, mas sem novidade, tudo que lhe resta é uma rotina insossa com rígida disciplina militar e obstinação. Em linhas gerais, o livro trata da acomodação gerada pelo ramerrão diário e de como ela molda expectativas, desconsiderando a passagem do tempo e a finitude da vida.

Na contra-capa aparece este texto: "De caráter existencialista e surreal, a narrativa, saturada de humor negro, não se restringe à vida militar. A bem da verdade, é mais apropriado considerá-lo uma alegoria sobre nossa existência e revelar esse aspecto é apequenar as questões morais e o conteúdo filosófico que abarca".

Relendo-o, lembrei que assisti ao filme homônimo, dirigido por Valério Zurlini, e li o ensaio de Antonio Cândido sobre a obra. Este ensaio se encontra no livro O Discurso e a Cidade, disponível na internet.

O interessante é que Il Deserto Dei Tartari foi lançado na Itália em 1940 e só publicado no Brasil 44 anos depois, um tempo surpreendente pelo sucesso mundial da obra. Eu não conheço o livro que saiu em português.

Por que falei neste romance? Porque ele retrata a vida, é reflexivo e induz a pensar no tempo hodierno. É sensacional e acaba como um tratado sócio-estético-filosófico e psicológico que vale a leitura e releitura.

Caro leitor, te deste conta que neste tempo de pandemia a nossa janela tornou-se um mangrulho que nos induz a vasculhar o horizonte a espera do inimigo invisível que não temos ideia de quando e se virá?

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