diário da esperança

Há tempo, sempre há tempo

Leio muito e talvez isso explique a miopia, talvez não. Mas como a minha formação acadêmica não é medicina, o papo sobre a saúde ocular se encerra aqui. O fato é que ler me oportunizou a descoberta de vários mundos e de possibilidades de solução para os meus problemas. Por isso, destaco o meu muito obrigada às professoras e professores por seu trabalho - acho que todos nós agradecemos, não é mesmo?

Percebo que temos ocupado o tempo falando muito sobre o tempo da pandemia, o tempo sem aulas presenciais, o tempo de todas as coisas ou se é questão de tempo para adquirirmos ou perdermos habilidades, sonhos e problemas - bem como de acharmos formas de solucioná-los. Aqui, porém, se dá um alerta: é preciso, com o tempo, fazermos as pazes, pois não há como pular etapas. É preciso encará-lo bem nos olhos, na verdade, nos nossos olhos, respirarmos fundo e espera-andar. Ao fazermos a cada dia um pouco, acabamos por andar muito, tal qual quando aprendemos a ler - uma palavra, a si ou o mundo.

Ao podermos ler (pelo idioma ou pelo corpo) entendemos que há palavras para descrever objetos, pessoas, lugares, o todo, o tudo. E, nessas palavras ,não há apenas descrições. Há emoções, ensinamentos, memórias, a história de uma cultura gravada em letras faladas e escritas para dar contorno ao que há em nosso redor.

E, com o tempo e repetições, criamos referências, juntamos tico e teco, como dizem por aí, contornamos o mundo que se cria a partir de nós, aprendemos que se pode "ir atrás" a todo momento (lembrando que, para muitas coisas, é necessário consenso) e que, às vezes, pouco é igual a muito.

Sendo assim, compartilho algo que aprendi: relativo ou não¹, sempre há tempo. Há tempo para dizer, planejar e fazer, para amar, retomar e reaprender (ou até mesmo aprender). Há tempo para assumirmos nossas responsabilidades e de entendermos, especialmente, o que é nosso e o que é do outro, o que se pode fazer com o tempo que se tem e o que é preciso deixar que com o tempo se possa aprender a fazer. E que há tempo com nós e sem nós, com os nós que se atam e o nós enquanto coletivo; que há tempo para fazermos nós com o entrelaçar de dedos para (re)construirmos o mundo.

A nós, portanto, resta ocuparmos o tempo que há com o que, em nós, já existe, desde os pequeninos² até os grandes passos aprendidos. Falar, amar, escrever, pintar, dançar, sonhar, organizar a casa, os contatos, entregar e receber afeto, saudar e sentir saudades, amadurecer e perceber que há tempo, sempre há tempo.

¹ Referência à Teoria da Relatividade, organizada por Albert Einstein em 1905.

² "Minha avó, uma vez, me deu uma dica:/ Em tempos difíceis, você avança em pequenos passos. / Faça o que você tem que fazer, mas pouco a pouco. / Não pense no futuro ou no que pode acontecer amanhã. / Lave os pratos. Tire o pó. / Escreva uma carta. / Faça uma sopa. / Entende? / Você está avançando passo a passo. / Dê um passo e pare. / Descanse um pouco. / Elogie-se. Dê outro passo. / Então outro. Você não notará, mas seus passos crescerão cada vez mais. / E chegará o momento em que você poderá pensar no futuro sem chorar. ", poema atribuído a Elena Mikhalkova.

Texto: Paula Hosana Silveira Biazus
Psicóloga e mestre em Educação Profissional e Tecnológica

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