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Há séculos do século 21

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Nestes tempos de fumaceira nos céus do Brasil, de intransigência política, de desafeição pelo diálogo, de extraordinária incapacidade de os governantes tratarem com discernimento das questões que afetam as relações internas da sociedade brasileira e das nossas relações com o mundo; nestes tempos de desrespeito absoluto aos princípios e valores consagrados pelo processo civilizatório; nestes tempos de mergulho cego no obscurantismo, qualquer coisa que se diga em afronta ao senso comum pode parecer agressão ou desapego à empatia e à alteridade, quando, em verdade, o que se quer é dialogar, quando o que se busca são interlocutores capazes de debater de forma racional as diferenças - que são normais e fazem parte da vida de qualquer sociedade - que nos colocam, a uns e outros, em campos ideológicos diferentes.

A intolerância nos tem subtraído a possibilidade de refletir sobre nossas diferentes visões de mundo e de, sobre elas, construir debates propositivos que nos possibilitem crescer como indivíduos e como sociedade.

Um Estado, construído a partir da ideia inicial de nação (nação, do latim natio, de natus, sinteticamente, se bem me lembro das lições de Teoria Geral do Estado e de Introdução à Ciência Política, é, segundo Darcy Azambuja, um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideais e aspirações comuns) ou de conjunto de nações, tanto mais rapidamente encontrará seu futuro quanto mais rapidamente for capaz de construir pontes que permitam o encontro das diferenças e o e diálogo em torno da possibilidade da persecução de pautas de interesse comum, capazes de superar pontos de vista antagônicos sobre aquilo que é relevante para a construção de uma identidade política com capacidade governativa mínima, que assegure à maioria de seus nacionais as condições indispensáveis ao crescimento e ao progresso econômico e social.

Em nosso caso, flagrantemente, retrocedemos e nos tornamos incapazes de exercitar a tolerância e a empatia. Só nos faltam bordunas e tacapes para que, à míngua de argumentos e de ânimo para dialogar, nos engalfinhemos na disputa pela imposição da verdade do mais forte. E, dependesse da vontade governamental estabelecida, estaríamos todos armados, resolvendo nossas divergências no chicote e na bala, como se vivêssemos há séculos do século 21.

A incapacidade de nossos governantes de ver um pouquinho além dos próprios umbigos - e de compreender o papel que a eles cumprem desempenhar em relação ao todo - compromete de forma irremediável a possibilidade de que, com a brevidade almejada, nos encontremos com nosso sonhado futuro. E, ao contrário, nos remete para um impensável mergulho na escuridão pantanosa, do que a história nos mostra como negativo, nos finados tempo do medievo.

Se nossos céus estão nublados pela fumaça das queimadas no Centro-Oeste e na Amazônia, nosso horizonte está toldado pela ignorância intolerante de quem deveria, no mínimo, ser facho (é o que se espera de quem se diz apto a governar) capaz de iluminar as veredas que um dia nos conduzirão ao futuro.

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