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Frio não tem cor

O frio não tem cor, não tem raça. O frio não tem sentimento. O frio não perdoa. O mês de julho chegou derrubando as temperaturas. As mudanças climáticas não se restringem à elevação da temperatura do Planeta. Somam-se às catastróficas consequências do aumento da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, a ocorrência de eventos extremos. Neles se incluem invernos rigorosos, chuvas torrenciais, vendavais, secas intensas. O frio que acomete o Rio Grande do Sul faz parte sim, do aquecimento global. Se continuar a velocidade do desmatamento e o incentivo à instalação de atividades com o uso de carvão e de outros combustíveis fósseis, a Terra se tornará um planeta inabitável, pelo menos para os seres hoje existentes.

Fazia muito tempo que não se verificava no Estado tantos dias e noites tão frios. As geadas congelantes pintaram de branco os telhados, as copas das árvores, os para-brisas dos veículos, os campos e as estradas. Sair de casa em dias de frio congelante, somente por necessidade ou por um bom motivo. Se recolher à beira do fogo saboreando uma sopinha quente e tomando um vinho transforma as reuniões familiares não apenas em eventos gastronômicos, mas em uma hibernação coletiva. Se dentro de casa o frio intenso é sinônimo de aconchego, comida quentinha e roupas grossas, na rua é sinônimo de dor, de fome, de desigualdade, de morte. O frio segrega. O frio dói. O frio mata. O frio nas ruas é ainda mais devastador. O frio das ruas devasta o corpo, o coração e a alma combalidos.

A solidariedade é o único antídoto que aplaca o frio. Replicando a ação do River Plate, da Argentina, o Internacional, de Porto Alegre, abriu o Gigantinho para acolher moradores de rua. Somaram-se, o Grêmio Porto-alegrense, outras instituições e voluntários à elogiável e necessária atitude. O rigor do inverno não é vermelho, nem azul. O frio não tem cor. O frio não tem dó. A grave situação econômica e social do país descortina e escancara o flagelo decorrente da ausência de políticas públicas que consigam resolver o grave problema das drogas e do álcool, os quais acirram ainda mais o quadro de desigualdades em tempos de elevado desemprego. Campanhas e ações ocasionais não resolverão o problema, mas representam um alento e, na maioria das vezes, um raro e único momento em que a invisibilidade dos moradores de rua é quebrada. Dormir uma noite longe do relento, da violência, sem que o vento ultrapasse as poucas e rotas vestes como estocadas de punhal, depois de uma comida quente alimenta o estômago e o coração e, representa, mesmo que por poucos mais do que oito horas, dignidade e respeito perdidos.

Estas ações não substituem a ausência do Estado e acredito que nem seja a pretensão, mas buscam catalisar solidariedade, empatia por meio de pequenas ações, as quais reunidas se agigantam, fundindo o vermelho e azul em uma única cor, iluminadas pelo sentimento de amor ao próximo. Parabéns Internacional e Grêmio! Que mais ações sejam catalisadas por esta.

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