Por Máximo José Trevisan
A morte, enquanto notícia em jornais, rádios e tevês, já é parte do nosso cotidiano. Os meios de comunicação assim a tornaram, por tão frequente em manhãs, tardes e noites. Não é qualquer morte que nos comove, que desperta atenção ou lágrimas. Somos cada vez mais insensíveis à sua presença. Importa reconhecer que a de alguns personagens públicos ainda atrai multidões, uma exceção, é verdade. Mas, convenhamos, há mortes mais previsíveis, como a dos muito idosos ou doentes. As mortes inesperadas, surpreendentes, essas que acontecem quando tudo parecia anunciar vida e vida em abundância, essas são qualificadas como "não naturais", porque provocadas por desastres. Elas, mais do que as outras, provocam câimbras na alma, amarrotam corações, enchem de perguntas as nossas mentes, carentes de respostas satisfatórias.
A morte do meu pai, aos 102 anos, me entristeceu muito, mesmo sabendo que, acamado, a alegria já não o caracterizava. A morte da minha mãe, aos 99 anos, aconteceu de repente, mas não foi tão dolorosa porque a história da sua vida criava manhãs de muito sol e canto de pássaros. A morte da minha irmã Teo e a do meu irmão João, os dois próximos dos 80 anos, foi diferente. A da Teo teve início treze anos antes, com o anúncio de um linfoma, monitorado pelo Dr. Waldir Pereira por anos a fio. Aliás, ele me confessou, certa vez, que considerava a vida da Teo um verdadeiro milagre, que atribuía ao seu desejo, quase infinito, de viver. Os últimos quatro meses, no Hospital de Caridade, foram, no entanto, um longo prefácio na trajetória rumo ao desconhecido que, para ela, tinha nome e endereço, o Reino de Deus. O meu irmão João surpreendeu a todos ao cair, tragicamente, numa escada frente à Igreja, em Porto Alegre, onde, num lindo sábado, buscava a celebração religiosa a que dava muita importância. A morte, mais uma vez, comprovou o que somos: frágeis e transitórios!
A pandemia internacional, nacional, estadual, municipal, que vivemos em 2020 e com ela iniciamos 2021, deu a todos a consciência, clara e forte, de que a previsibilidade não é palavra que ainda conste no vocabulário humano. Todos estamos sujeitos, em qualquer momento, a ser vítimas de um vírus invisível, mortífero e injusto. As notícias diárias, as mais de duzentas mil mortes no Brasil, por si só, são suficientes para dizer do seu alcance. Para o chamado "grupo de risco", ficar em casa é a marca da prisão domiciliar e do convite, para muitos, à depressão. Para os outros, os fora do "grupo de risco", resta a esperança de que não serão abatidos pelo vírus, mas somente ameaçados.
Frágeis e transitórios, sim, mas agarrados à vida e amantes dela é o que somos!