colunista do impresso

Fé na ciência ou ciência na fé?

Numa destas andanças pelo mundo, fui ao teatro e assisti uma peça de Ricky Gervais, nela me intrigou um diálogo travado sobre ciência e fé, onde um personagem afirmava: "se destruírem todos os livros, todos os registros das religiões, daqui a mil anos haverá religiões diferentes das de hoje. Se destruírem todos os registros científicos, não. A ciência de daqui a mil anos será a mesma que temos agora, porque farão os mesmos testes e encontrarão os mesmos resultados". Fantástico!

Saí do teatro pensando na diferença entre fé e ciência, já que fé lida com o abstrato e ciência com o concreto comprovado pelo cientista. As melhores respostas para essa questão parece que não estão vindo do cientista, do filósofo, nem do papa.

Se encontrarmos uma civilização tecnológica em outro planeta, eles vão conhecer a relatividade sem ter tido um Einstein - já que sem relatividade não tem GPS (entre outras coisas), e sem GPS não temos uma civilização tecnológica digna desse nome. Da mesma forma, o foguete da Space X seguiu à risca as equações de Kepler, feitas no início do século 17, antes de Newton, para sair da órbita da Terra. Newton pegou as equações de Kepler e deduziu a existência da gravidade universal. Einstein viu uma brecha que Newton deixou e aprimorou a teoria, descobrindo a relatividade geral. Darwin deixou a cama arrumada para a descoberta do DNA, quase um século depois dos tentilhões de Galápagos.

A ciência é uma obra coletiva construída à base de tentativa e erro. Ninguém tem "fé" em Einstein. Só sabemos que ele está certo porque 100 anos de experimentos comprovaram isso. Uma dessas experiências acontece toda vez que se liga o Waze. A relatividade geral reza que, quanto menor for a gravidade à qual estivermos expostos, mais rápido o tempo passa.

A natureza faz o seu relógio andar mais rápido - seja aquele no pulso, seja o do relógio biológico. Os relógios dos satélites de GPS, sob menos gravidade, correm mais rápido que os relógios da superfície. Para o Waze dar nossa localização exata, o relógio do nosso celular aqui embaixo e o dos satélites lá em cima precisam estar sincronizados.

E agora? E se o aparelho que recebe o sinal lá de cima estiver com a hora errada. Aí ele roda as equações de Einstein e faz a correção na hora. Cada vez que o Waze nos leva para algum lugar, temos a prova de que Albert Einstein estava certo.

A resposta da pergunta que me fiz a partir da peça de Gervais mostra que muita gente ainda não entende a beleza real da ciência nem da fé. Isso só vai acontecer de fato quando as descobertas da física, astronomia, biologia, forem tão parte da conversa diária quanto a religião, política e o futebol. Tornar isso real é uma missão importante.

Caro leitor, és de fé e/ou ciência? Estás botando fé na vida? E na ciência?

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Honestidade Anterior

Honestidade

A encruzilhada Próximo

A encruzilhada

Colunistas do Impresso