sérgio blattes

Fake news

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Donald Trump cunhou a expressão "fake news" para atribuir falsidade ou manipulação de notícias. A expressão ganhou repercussão mundial e está sendo largamente utilizada para caracterizar aquilo que o escritor checo Milan Kundera chamara, há mais tempo, de imagologia.

A imagologia seria, como a "fake news", fruto de várias fontes. Os governos também são emissores de "fake news", como ao propagandear reformas como poderoso elixir para todos os males, como faziam os velhos camelôs, que em praça pública alardeavam efusões milagrosas que curavam desde unha encravada até sífilis). Também podem ser fontes de "fake news" as agências de publicidade, assessores de imprensa de políticos, artistas, empresas, etc; marqueteiros eleitorais; enfim, todos aqueles que podem ter acesso aos meios de comunicação para difundir o que lhes interessa da forma que desejam. Os imagologos ou divulgadores de "fake news" inculcam na população, mediante a repetição de "notícias", imagens e opiniões aquilo que é do interesse de seus clientes.

A "fake news" não nasceu agora. Somente a denominação é nova. A manipulação de informação sempre foi instrumento concorrencial, seja em guerras bélicas, comerciais ou políticas. Hoje, entretanto, o que as tornam mais evidentes é a facilidade com que são divulgadas e o universo de pessoas alcançadas. Não se sabe mais, diante de um fato divulgado, se aquilo é realidade ou simplesmente um fato inventado ou manipulado, ou seja, um produto de produção industrial de fatos virtuais.

Não sejamos ingênuos, mesmo empresas de mídia, que se ufanam de dizer-se neutras, através de suas editorias selecionam as notícias a serem divulgadas, excluindo aquelas contrárias à sua orientação empresarial e turbinando aquelas que lhe são favoráveis. Mas não é só, com frequência maquiam a notícia, para dar-lhe um tom mais positivo ou negativo. Há casos, também, de notícias requentadas, já divulgadas, mas que permanecem no noticiário como se fosse um mantra. É neste emaranhado que estamos presos. Nossa condição de eleitores e consumidores está manietada, nos levando a agir de acordo com o que nos é inculcado pela propaganda explícita, ou implícita em aparente fato noticioso, ou subliminar como no merchandaise. Pensamos o que outros nos dizem como pensar.

A demagogia, entendida como a arte de manipular ou agradar à massa popular, está industrializada, e, no campo político, já é quase regra que após a eleição concluamos que nossa escolha recaiu em alguém inexistente, virtual, fruto da imagologia, que, após o pleito, é substituído por um ser de carne e osso, que não possui a capacidade, a honorabilidade e os pensamentos que foram anunciados no pleito e que nos induziram a votar.

Falam muito em controle das "fake news", mas isto é mais uma imagologia, ou seja, ninguém está realmente interessado em abdicar de propalar o que não é verdade.

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