opinião

Entre o individual e o coletivo, o dilema atual para a esquerda


Os direitos do indivíduo inspiraram ideários liberais, mas também estiveram na agenda socialista que veio logo depois. A Revolução Francesa, ainda no século XVIII, declarou o que seriam garantias mínimas de um ser humano. E daí se foi evoluindo, retroagindo, reagindo, entre normas, lutas e revoluções, até a suposta universalização pela Declaração da ONU já no pós-segunda grande guerra.

As ideias socialistas, a partir do século XIX, colocaram o conteúdo de coletividade. Os interesses coletivos são superiores aos individuais, contrapondo-se à consequência da liberdade individual que havia levado uns, mais fortes ou poderosos, a explorarem outros.

Minha geração da segunda metade do século XX - falo da parcela dela inspirada em ideais sociais, de esquerda - cresceu com o embalo da Declaração Universal dos Direitos Humanos e com a experiência restritiva a direitos individuais que o Brasil viveu. Acentuou-se nela o caráter libertário, tornou-se mais protetora do indivíduo do que os liberais. E isto se manifestou plenamente quando se romperam os diques do autoritarismo e se formularam Constituição Federal, leis e instituições novas.

Até hoje o discurso e a postura de correntes referidas como de esquerda são acentuadamente individualistas, no sentido de que defendem a proteção da conduta pessoal diante dos interesses coletivos. Mas, a esquerda não é coletivista? Não preconiza o interesse coletivo sobre o individual? No Brasil, o histórico referido explica esta postura conflitante.

Hoje temos um caos comunitário. Muitos fatores somaram-se em décadas para chegar a este resultado. O coletivo se sente assustado, desamparado; toda a vez que isso aconteceu, graves perigos rondaram sociedades.

É hora de reagir antes de um cataclismo com grave retrocesso.

O pensamento de vanguarda no Brasil, as generosas ideias das correntes libertárias, a cultura do politicamente correto que se consolidou entre nós como triunfo "gramischiano", persistem na defesa da postura pessoal em conflito com o interesse comum. É certo que o maior criminoso mereça garantias fundamentais, mas isso, agravado entre nós, tem levado chefes de poderosas organizações a se tornarem imbatíveis, capazes de reproduzir opressão sobre comunidades. É certo que um punguista é delinquente de baixo potencial ofensivo e não deva receber pena mais pesada, de preferência algo alternativo à prisão; mas, isso lhe dá o direito de voltar sempre ao mesmo lugar de uso coletivo e retornar a delinquir e zombar do policiamento que o recolhe habitualmente para ser solto no dia seguinte?

Está na hora dos generosos pensamentos transformadores preocuparem-se em municiar o coletivo com regras e instituições democráticas que o garantam e protejam em relação ao abuso do direito individual, sob pena de entregarmos a sociedade a fórmulas reacionárias e obscurantistas.

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