colunistas do impresso

Discutir com burro ou a grama é azul

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Tenho acompanhado cada postagem nas redes sociais que me deixam surpresa pela coragem, maldade, incoerência, falta de educação e de sensibilidade de seus autores. O extremismo impera e os argumentos não amenizam as posições radicais, dando a entender que entre o branco e o preto desapareceram os 50 tons de cinza, que a moeda só tem cara e coroa, que o mundo é feito só de bem e mal, que os únicos sentimentos são amor e ódio, enfim, a dualidade cada vez mais, se petrifica a ponto das pessoas temerem olhar em outra direção com receio de virarem estátua de sal.

Na semana passada, a convite de um colega italiano, acompanhei uma discussão, embasada em resultados de pesquisas feitas na Universidade de Barcelona, sobre vacina, tratamento preventivo, imunidade, alimentação, e outros temas de saúde. Exposições repletas de gráficos, análises bem pontuais, comparações, estudos elogiáveis feitos nos cinco continentes.

No final das exposições dos autores foi dada a oportunidade para perguntas, comentários, e críticas. Fiquei extasiada ouvindo o debate de gente que não é da área da saúde, não participou da pesquisa, nem é pesquisador, tentando depor contra os resultados encontrados, sendo deselegante, desagradável, inconveniente com os autores, e inibindo outros participantes de expressarem suas posições.

Naquele dia lembrei Tibério Sá Maia e do seu escrito O Burro e O Tigre.

Nele o burro diz ao tigre: A grama é azul. O tigre responde: Não, a grama é verde. A discussão se acirra e os dois decidem falar com o Rei da Selva. Antes de chegarem ao lugar onde estava o trono do leão, o burro começa a gritar: Vossa Alteza, não é verdade que a grama é azul? O leão respondeu: Certo, a grama é azul! O burro continuou: O tigre discorda e isso me incomoda. Por favor, castigue-o. O rei declara que o tigre seria punido com quatro anos de silêncio. O burro, saltitante e feliz, continuou o seu caminho, repetindo: A grama é azul! O tigre aceita a punição, mas questiona o leão: Majestade, por que fui punido? Afinal, a grama é verde. O leão responde: Sim, na verdade, a grama é verde! O tigre pergunta: Então por que fui punindo? O leão respondeu: Isso não tem nada a ver com a grama ser azul ou verde. O castigo é porque não é possível que uma criatura corajosa e inteligente como você perca tempo discutindo com um burro, e ainda por cima me incomodando com essa questão.

Recordei esta história porque ela materializa a ideia de que nunca se deve perder tempo discutindo com pessoas extremistas, radicais, que já estão convencidos de que a grama é azul e ninguém vai convencê-las do contrário.

Caro leitor: já tiveste a oportunidade de tentar conversar e argumentar com uma pessoa que acredita que a grama é azul?

E, na tua vida, estás agindo mais como tigre ou burro?

CONFIRA OUTROS TEXTOS:
A Fratelli Tutti e a amizade social

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

As Mulheres que poucos veem Anterior

As Mulheres que poucos veem

Visitando o passado (III) Próximo

Visitando o passado (III)

Colunistas do Impresso