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Avô solteiro

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Meu amigo Alexandre tem 65 anos, é um homem de muitos amores, três filhos, uma neta e nenhum casamento. Uma pessoa excêntrica, que vive desafiando a existência e se reescrevendo para continuar sua trajetória.

Com seus 12 anos, resolveu tornar-se seminarista, mas dois anos depois, decidiu sair do Seminário porque soube que o Banco Meridional pegava estagiários e pagava R$ 20, coisa que lhe rendeu o apelido de Vinte.

Quando completou 22 anos, no dia do seu aniversário, per-deu o pai e a mãe que se acidentaram quando iam para sua festa, morreram os dois numa só tacada. Sofreu a perda, e como é o bebê de uma família de 15 irmãos, os outros 14 lhe ajudaram a elaborar a perda e a voltar a comemorar a data.

Alexandre, até hoje, ainda é chamado de Vinte por alguns amigos, mas por muitos é tido como o Caveira. Um dia ele me contou que ganhou este apelido por conta de seu tipo físico: dentes grandes, bem magro, alto e com pouquíssimo cabelo. Mesmo assim, acho Alexandre bonito por dentro e por fora, tem uma expressão facial serena, alegre, é um grande parceiro e cúmplice, além de descoladamente elegante e bem apessoado, um homem que jamais passará desapercebido em qualquer ambiente.

Ele não veio ao mundo a passeio, aproveitou todas as oportunidades que a vida lhe deu, morou em muitas cidades e praias do Rio Grande do Sul e do Paraná, teve loja de roupas e calçados, farmácia, bar, restaurante numa praia e foi empregado numa loja que vendia rodas de carro. Por ser muito inteligente e estudioso, alternou estas atividades com outras que exercia por aprovação em primeiro lugar nos concursos, assim foi secretário de escola, escrivão, motorista de caminhão, professor, entre outras nomeações.

Exímio na área da informática, até hoje dá curso de informática nas horas de folga, mas como profissão oficial é funcionário público de um município do Estado de Santa Catarina.

Pense em uma pessoa boa, prestativa, religiosa, estudiosa, que viajou pelos cinco continentes, que sabe tudo de tudo, entende de carro, de som, de atualidade, de história, de política, de perfumes, de moda, de queijos, de vinhos e muito mais. Esta bagagem estimulou seu filho a estudar e a ser premiado na Olimpíada de Matemática do Brasil.

Alexandre é gremista de carteirinha, gosta de futebol e de todo tipo de esporte, mas vibra mesmo é com a neta, uma menina de 1 ano que ensaia muitas palavras, inclusive seu nome.

O fascinante nesta figura, além da amizade que devota, é a leitura que faz da vida, a leveza com que trata as coisas, a parceria e disponibilidade, tornando-se um amigo com quem verdadeiramente se pode contar.

O que mais me chama a atenção na sua fala é que, quando alguém pergunta qual é o seu estado civil, ele diz: sou avô solteiro.

Caro leitor, você já ouviu alguém se identificar assim? Você conhece algum avô solteiro?

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