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Arnaldo, meu amigo, lá no céu

No entardecer do dia 29 de junho passado, estive no escritório do meu amigo Arnaldo Malheiros Filho, que se foi para o céu no dia 24 de maio de 2016. Os advogados que o sucederam inauguravam uma biblioteca com o seu nome e me pediram para dizer algumas palavras. O que mais me importava era afirmar que continuo neste plano com a certeza de que no futuro nos reencontraremos, lá em cima.

Li umas páginas que trazia em minhas mãos porque a vida me ensinou que a emoção nos faz tropeçar em nós mesmos. Por conta dos inúmeros momentos que vivemos juntos, eu não sabia por onde começar.

É assim porque a amizade excede o alcance dos nossos braços, não somos capazes de descrevê-la. Lá estava eu para - revisitando o passado - relembrar uma interminável amizade. Entre vários momentos, o que aconteceu no dia 7 de abril de 2004, uma quarta-feira da Semana Santa. Ao chegarmos a Tiradentes, Tania e eu, o telefone tocou. Era o Márcio Thomaz Bastos pedindo-me que ficasse calado, mas queria contar que o Presidente da República indicaria meu nome ao Senado para compor o quadro do STF. "Escuta",  disse-me ele: "Só eu e o Arnaldo, aqui ao meu lado, sabemos disso. Vou lhe passar o telefone."

Algumas vezes perguntei-lhe quando e como ele, Arnaldo, participou dessa indicação e ele sempre reagiu lembrando-me que o Márcio era meu amigo desde os anos 1960. "Deixa de me fazer perguntas", dizia.

Um dia, lá em cima, voltaremos a falar sobre isso, mas tenho certeza de que o Arnaldo é responsável pelo meu tempo de magistratura. Depois, quando voltei à advocacia, emprestou-me sua beca para minha primeira sustentação no STF.

Conversávamos a respeito do todo e de tudo. Quando o tempo foi passando, na Tabacaria do Beto e em Paris. Caminhando pela rue de Sèvres até o Au Sauvignon, onde nos sentávamos. Em março de 2016, nossos derradeiros encontros por lá: no dia 20, um jantar na Lipp; dia 25, outro no Bocca dela Veritá; dia 27, domingo, um inesquecível almoço novamente na Lipp.
Em abril, seu médico, nosso amigo Raul Cutait, levou-o à Tabacaria. Ele sorria, falava muito pouco. Havia um brilho suave em seu olhar, como se antevisse sua partida no mês de maio.

No entardecer do dia 29 de junho de agora, 2019, lá onde foi seu escritório, José Carlos Dias, também nosso amigo de verdade, passou-me a palavra. Era como se um nó na garganta me impedisse de falar. Eu tinha plena certeza de que ele estava ao nosso lado e um dia virá o momento no qual - como diz uma canção da minha terra -  estaremos todos juntos, reunidos. Era como se eu ouvisse a voz do Arnaldo a dizer: "É isso mesmo. Seremos todos, lá no céu, um só!".

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