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A pressão nas universidades

Professores universitários, em geral, trabalham muito. Ao menos todos que conheço e convivo estão sempre correndo para cumprirem suas obrigações. Os estudantes querem excelentes resultados e as instituições precisam atingir as melhores notas junto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foi-se o tempo que o difícil era preparar e corrigir provas nos finais de semana, enquanto sua família assistia TV, esperando as tarefas finalizarem para obterem sua atenção. Às vezes sequer temos tempo de chorar quando perdemos uma pessoa querida. Precisamos estar inteiros, prontos para atuar e responder adequadamente todas as exigências. Não há espaço para sofrer. É quase como dizíamos para os filhos: engole o choro!

O Lattes deve ser atualizado constantemente. São indispensáveis (muitos) projetos que gerem impacto na comunidade. É impreterível que se ganhe muitos prêmios no caminho. Inevitável participar de infinitas comissões. Obrigatoriamente estamos atentos em reuniões de todos os grupos de pesquisa, de equipe, de estudantes bolsistas, de leituras e debates.

Já fez o cálculo de quantos periódicos científicos você é revisor(a) sem ganhar um tostão? Mas você não nega, pois conta ponto no currículo. E quantos artigos você publicou no último ano? Qual era o Qualis da revista? Existe pressão para que sejam publicações com impacto internacional. Claro que estas produções exigem tradução do texto para outras línguas, e isso custa caro. De onde sai o pagamento? Óbvio: é duramente rateado entre os autores. Sem esquecer que para termos prestígio é fundamental escrevermos livros que gerem filas para aquisição, ao menos no dia do lançamento. Importante ter consciência que mesmo que consiga vender um bom número de exemplares, mal conseguirá custear as despesas com a sua elaboração.

Há a necessidade de estar atualizado, e isso inclui a participação e apresentação de trabalhos em congressos, eventos, seminários e jornadas. Para tanto, seria bom algum financiamento. Como é raro acontecer, você vai com as suas economias mesmo.  

Alegria temos quando chega a mensagem de algum estudante angustiado com o seu resultado perto da meia-noite e você esqueceu de tirar o som do telefone. Na décima mensagem conclui que o melhor é acender a luz e responder, mesmo que seja um "amanhã eu vejo" para a pessoa também ter um pouco de paz.

Preparar aulas hoje em dia esgota as energias em busca de criatividade, ousadia e todo o ânimo possível. Se não for muito atrativa, o acadêmico vai preferir ficar olhando para o celular. Ao término da disciplina, provavelmente ele vai preencher a ficha de avaliação, dizendo que as aulas eram fracas.

E o que falar dos professores das universidades federais? Preocupante a situação, tendo em vista os recentes decretos que podem impactar seriamente o andamento das atividades. De imediato, as informações que circulam é de que serão extintos alguns cargos e vedada a abertura de concurso público. Só na UFSM serão extintos 30 cargos e 326 técnico-administrativos que não serão repostos.

Bom mesmo é quando vem a pergunta: "mas tu só dá aula?". Melhor dar aquele sorriso amarelo e não responder o que lhe veio na cabeça. O salário? Posso dizer que não é o de um jogador de futebol e sequer contém as vantagens de algum político.

Entretanto, temos consciência da importância do nosso papel social e profissional. Por isso seguimos em frente, usando toda a nossa energia para construir, juntamente com os estudantes, um mundo melhor. Enfim, nós que chegamos até aqui, resistiremos a pressão e continuaremos.

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