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A inflação de cada um

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Você certamente já ouviu falar que a inflação é um imposto que pune mais os pobres do que os ricos e achou que isso era discurso da esquerda. Talvez, tenha ficado intrigado com a matéria do Jornal Nacional (JN), sobre o assunto, mas achou que esse era mais um capítulo da guerra entre o governo Bolsonaro e a Rede Globo. Pode ser inclusive que você nem seja de direita, nem eleitor de Bolsonaro e nem antipetista. Você simplesmente é um cético e acha que essa briga não lhe diz respeito. Mas você está enganado.

Para não fugir à má fama dos economistas, primeiro vamos aos números do JN. Os dados são do mês de julho deste ano e a fonte é o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), órgão do governo. O Ipea classifica as famílias de baixa renda como aquelas que têm renda domiciliar menor do que R$ 1.650. As famílias de alta renda são as com renda domiciliar maior do que R$ 16.509.

A inflação para as famílias de renda baixa foi de 0,38%, no mês, enquanto as famílias de renda alta tiveram uma inflação de 0,27%. No acumulado do ano, o Indicador Ipea de Inflação acumula alta de 1,15% para as famílias de baixa renda e de apenas 0,03% para as de alta renda. Em 12 meses, o avanço é de 2,94% e 1,73%, respectivamente. Ou seja, se você é pobre, a perda do poder de compra é maior do que a dos ricos.

Se você ganha pouco, o peso da alimentação é proporcionalmente alto no seu orçamento, mas não para os ricos cujo peso dos alimentos, em relação à renda, é pequeno. Como isso acontece? Simples. Vamos dar um exemplo para demonstrar que você é dono da própria inflação.

Ela depende de sua "cesta de consumo". Imagine que você é um maníaco por organização, que ganha um salário mínimo e gasta toda a sua renda com alimentação (deixando de lado outras despesas, para facilitar). Junta as notas do supermercado e soma o quanto gastou com cada produto. A seguir, atribui pesos relativos a cada um (quanto maior o gasto, maior o peso). Pronto, você já tem o próprio índice de inflação.

No mês seguinte, você mantém os pesos do mês anterior e anota, numa planilha, os novos preços. Depois, basta dividir o índice do mês atual pelo do mês anterior para encontrar a variação (sua taxa de inflação). Claro, o exemplo é apenas didático. O cálculo para a população é mais complexo, baseia-se numa amostra de orçamentos familiares e usa estatística. Mas a mecânica é essa.

Não ligue para a taxa de inflação próxima de zero do governo (IPCA), cujo índice é baseado numa faixa de renda muito alta (de um a 40 salários mínimos). A taxa, para o mês de setembro, foi de 0,64%, de 1,34% no ano, e de 3,14% em 12 meses. Essa é a inflação dos ricos. Se você é pobre, a sua inflação é outra.

Mesmo sem calcular, você sente no próprio bolso. O preço de itens básicos como óleo de soja e arroz, subiram 27,5% e 17,9%, respectivamente, só no mês de setembro. No acumulado do ano, aumentaram 51% e 40,6%, respectivamente. Com o dólar alto, os produtores preferem exportar e ganhar mais. Ainda por cima, você está duplamente perdendo poder aquisitivo. A sua poupança está indo pelo ralo: o rendimento no ano é menor do que a inflação oficial. Se tirar o dinheiro do banco, vai comprar menos do que quando depositou.

Da próxima vez que ouvir falar que a inflação é o pior imposto de todos, não pense que esse é apenas um discurso ideológico.

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