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A falácia do Brasil polarizado

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Eu queria que vivêssemos num país polarizado. De verdade, eu queria. Não que eu goste de polarizações, muito pelo contrário. Em regra, as considero forçosas, desinteligentes e, não raramente, indutoras de respostas extremadas para discussões pueris. Mas torno a dizer: Eu preferiria que vivêssemos num pais polarizado, mas não vivemos.

Isso porque polarização, como a própria expressão já denuncia, pressupõe a existência de pelo menos dois polos distintos e opostos entre si. Estes, por sua vez, demandam a existência de referências minimamente claras, uma antagônica à outra. Num ambiente polarizado, pelo menos, podemos perceber de maneira mais ou menos precisa quem está num polo ou noutro e o que cada um defende.

Nosso país, no entanto, carece justamente de qualquer referência, seja ela ideológica ou política, que nos permita identificar quem pertence a um polo ou a outro. A crescente hostilidade que se vê hoje decorre, não de polarização política ou ideológica, mas, ao contrário, do total esvaziamento dos âmbitos político e ideológico.

A falta de referências mínimas que possam ajudar as pessoas a se posicionarem de maneira coerente, mesmo que em polos antagônicos entre si, faz com que os embates não sejam exatamente polarizados, mas sim anarquizados, baseados na criação de inimigos imaginários e em ataques pessoais aleatórios.

A aparente polarização, então, se dá entre um grupo que se sente divinamente autorizado a apedrejar quem quer que considere inimigos, convenientemente escolhidos como tais, e outro formado por todo o resto que já foi ou se vê na possibilidade de vir a ser elegido como inimigo e alvo pedradas injustificadas.

Essa polarização é apenas aparente porque não há uniformidade ideológica, política ou mesmo social em qualquer dos grupos. Não existem dois grupos antagônicos entre si, mas sim uma batalha campal propositalmente estimulada por quem deveria primar pela manutenção da ordem pública, mas para quem a ordem não parece ser prioridade: o governo.

E no intuito de disseminar a desordem, sobram pedras para todos os lados. Não é pequena a lista de inimigos inventados pelos que hoje estão no governo, aliás, desde antes de assumir o poder: Os professores, os estudantes, os jornalistas, os ambientalistas, os cientistas, os servidores, os foliões, o Emanuel Macron, a esposa do Emanuel Macron, o papa Francisco, a Greta Thunberg, a China e mais uma infinidade de pessoas que viraram malfeitores da humanidade simplesmente porque o governo assim os quis.

Mais recentemente, governadores e um bocado de deputados até pouco tempo atrás alinhadíssimos com o governo passaram a engrossar a lista de supostos "inimigos do Brasil", dedicados unicamente a derrubar o "alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado" (obrigado, Adriana Calcanhoto) para, supostamente, impor o "comunismo" no Brasil.

O nome disso, senhores, não é polarização. O nome disso é paranoia! Ah, como eu queria que fosse só polarização.

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