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'Morte Lenta' e 'Só Mais Essa'

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Santa Maria tem uma riqueza de locais para quem gosta de sair à noite. Há opções de qualidade, para os mais diversos públicos. Bares, restaurantes, boates e afins proporcionam essa condição. E a vida noturna, afora seu fascínio natural, tem causos interessantes. Lembrei-me de uma história que me contaram.

Lá pelos anos 1990, dois notívagos marcaram a cena na cidade. A amizade entre eles começou nas dependências do Restaurante Augusto, onde foram apresentados por amigos em comum. Trocaram ideias, perceberam semelhanças, firmaram parceria e, na sequência, espraiaram para outras bandas. Apreciadores de um bom papo, de uma boa bebida e de música ao vivo, a dupla circulou "de líder" por vários locais da época. Eram sempre bem recebidos nos estabelecimentos. Relacionavam-se amistosamente com os proprietários, com os demais clientes e com os garçons.

Porém, já nas primeiras noitadas vinha à tona um problema crônico: a dificuldade extrema da dupla em ir embora. As noites tinham começo, mas não tinham fim. Ficavam sempre pedindo "mais uma" e não paravam nunca. Daí, ato contínuo, surgiu o apelido da parceria: "Morte Lenta" e "Só Mais Essa", alcunhas que, inegavelmente, faziam jus. Os dois, pessoas agradáveis, educadas e cultas, tinham essa característica interessante e, ao mesmo tempo, preocupante.

Pois bem, em certo momento das suas trajetórias noturnas, foram de mala e cuia para o Restaurante Les Quatre Seasons, localizado no térreo do Hotel Itaimbé. Local bonito, bem servido, aconchegante e que, até hoje, recebe festas e eventos. Na época, por sinal, era referência de encontro para a "high society" santa-mariense. Ali, como previsível, o problema rapidamente apareceu. Todo final de semana o mesmo drama. O restaurante não conseguia fechar as portas. Tinham hora pra chegar, mas não tinham hora pra sair. Diante disso, já vinham sendo gentilmente comunicados pela gerência de que havia horário para fechamento da casa. Mas não tinha jeito. Até que ocorreu um desfecho inusitado. Sem saber mais o que fazer, um dos garçons tomou as dores do problema. Pesquisou e descobriu qual era o carro de um deles. Enquanto os dois bebiam infinitamente lá dentro, de forma discreta foi no estacionamento do hotel e murchou um pneu. Era o "recado" para que se flagrassem.

Na primeira vez, Morte Lenta, proprietário do Chevette atingido, trocou o pneu e achou que fosse casualidade. Na semana seguinte, o Chevettinho bege apareceu de novo com um pneu murcho, o que o fez pensar que estava com azar. Na terceira semana, com outro pneu murcho, começou a desconfiar, mas não se entregou. Até que, na quarta semana seguida, ao ver novamente um pneu murcho, a ficha caiu. Conversou com Só Mais Essa, captaram a mensagem e partiram em busca de um novo local.

Pois neste momento de pandemia, em que a noite de Santa Maria está bem anestesiada, recordo essa história para falar da importância dos estabelecimentos noturnos na vida de muitas pessoas. O prazer de encontrar os amigos, os comes e bebes, a música ao vivo, enfim, a atmosfera que seduz a tantos ficou deveras fragilizada. Além dos graves problemas econômicos e sociais para os atores da noite, como empreendedores, garçons, cozinheiros, músicos, porteiros, seguranças, etc., há outra questão, bem menos importante, mas que merece ser lembrada. Ficaram sem norte os apreciadores da vida noturna, figuras da estirpe de Morte Lenta e Só Mais Essa.

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