Coluna Gastronomia e Viagem

Le Bateau Ivre: culinária francesa de qualidade em Porto Alegre

Neste mundo maravilhoso da enogastronomia, tenho feito grandes descobertas, aprendido muito, conhecido muitos lugares e pessoas interessantíssimas. Tenho me dedicado aos cursos oferecidos pelo CIAS - Centro Italiano di Analisi Sensoriale - e tivemos uma entrega de certificados em Porto Alegre, onde pudemos desfrutar de um jantar harmonizado com vinhos no restaurante Le Bateau Ivre, do chef Gérard Durand.

Le Bateau Ivre (que pode ser traduzido como: O Barco Bêbado) é um poema de 100 versos escrito por Arthur Rimbaud, em 1871. O poema descreve, em uma narrativa repleta de imagens vívidas e simbolismos, os momentos que antecedem o naufrágio de um navio perdido em um mar bravio. Além de dar o nome ao restaurante, pode-se fazer um paralelo entre um jantar harmonizado e os momentos em que um navio está prestes a afundar. Quando se propõem um vinho para um prato, podemos ter gratas surpresas se respeitarmos algumas regras básicas. Porém quando arriscamos podemos ou afundar ou ter experiências fantásticas, e isso é o que procurarei relatar aqui.

Após passar por Arraial D'Ajuda e Brasília, o chef Gérard aportou em Porto Alegre em 2002 e trouxe um pouco da Provence para o sul do Brasil. Iniciamos a noite com um paté de campagne, um paté de queijo e ervas acompanhados de pães artesanais. Este couvert foi servido com um vinho Casa del Maipo Chardonnay, um chileno do Valle Central produzido pela Viña Francisco de Aguirre, sem passagem em carvalho e que nos recebeu muito bem. Como entrada nos foi servida uma salada de folhas verdes, manga e pimentões vermelhos com um queijo de cabra de uma produtora de Taquara-RS. O queijo foi afinado e temperado pela equipe do restaurante e servido sobre uma fatia de baguete torrada. Para esse prato nos foi oferecido o vinho Love, da Viña Marty, um assemblage de Chardonnay (75%) e Sauvignon Blanc (25%) que, com sua acidez e caráter frutado, combinou muito bem com o prato. Uma curiosidade é que o enólogo desse vinho chama-se Pascal Marty que iniciou sua carreira no Château Mouton Rothschild e é o criador de vinhos ícones como o Almaviva e o Opus One. Ele agora está num projeto próprio na Viña Marty, no Valle Central do Chile, e seus vinhos chegam ao Brasil com uma ótima relação custo benefício.

Foto: Felipe Müller / Arquivo pessoal

O primeiro prato do menu principal foi um filé de peixe com queijo brie e um molho de vinho branco extremamente complexo, receita secreta do chef Gérard. Peixe com queijo já é uma dificuldade e nos aventuramos ainda mais ao harmonizar esse prato com um Tamaya Reserva Pinot Noir chileno da região de Limari. Vinho tinto com um marcante aroma de frutas vermelhas e toques herbáceos conseguiu, com sua leveza e acidez, acompanhar muito bem o prato de peixe. Confesso que fiquei surpreso positivamente com o resultado, mas ainda ficaria com o vinho da entrada para acompanhar também esse prato.

Foto: Felipe Müller / Arquivo pessoal

Chegamos ao segundo prato do menu principal, um Confit de Canard (coxa e sobrecoxa de pato cozido lentamente em gordura de pato). Delicado e macio, o pato foi servido com um molho de vinho tinto e uma emulsão de foie gras (fígado de ganso). As camadas superpostas de sabores eram de uma untuosidade incrível e pediam um vinho com essa mesma complexidade. Então, voltamos ao Pascal Marty, com um de seus ícones, o Corazón del Indio (um blend em partes iguais de Cabernet Sauvignon, Camenère e Syrah). Coração de índio refere-se à serra, na qual está localizado o vinhedo Clos de Fa, que tem a forma de um índio dormindo com seu coração esculpido em uma pedra de cor diferente. Esta beleza natural fez com que a população local acreditasse nele como o protetor de suas terras férteis na encosta do vale do Maipo. Esse vinho apresentou aromas de frutas negras, vermelhas, baunilha, com taninos arredondados e um bom corpo, tudo equilibrado. Um espetáculo quando apreciado com o pato ressaltando todos os seus sabores.

Foto: Felipe Müller / Arquivo pessoal

Para encerrar nosso jantar, uma sobremesa clássica francesa, o Crème brûlée que nada mais é que um creme de baunilha com açúcar caramelizado por cima. São poucos aqueles que conseguem acertar seu ponto suave, mas ao mesmo tempo firme e a textura crocante do açúcar queimado. O nosso estava uma delícia e, na minha opinião, o único à altura dele na região seja o do restaurante La Table D'Or, em Gramado, mas isso já é outra história. Infelizmente não tivemos vinhos para acompanhar a sobremesa, mas eu poderia ousar e sugerir um vinho branco de sobremesa da região de Barsac. Provarei quando tiver oportunidade! Todos os vinhos degustados estão à disposição na importadora Easy Wine, propriedade do Cauê, filho do Chef Gérard e que, em breve, terá uma loja virtual.

Foto: Felipe Müller / Arquivo pessoal

Aproveitem e até nossa próxima orgia enogastronômica!

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