viagem

É o que eu acredito!


"A estrada é longa, com muitas curvas sinuosas, que nos leva a quem sabe aonde?" A felicidade não está na estrada que leva a algum lugar. A felicidade é a própria estrada (Bob Dylan).

Ainda sem a possibilidade de "pegar a estrada" em virtude da pandemia, decidi compartilhar com os leitores - da minha coluna digital mensal no Diário de Santa Maria - um pouco sobre a minha "estrada no magistério".

A minha estrada completará 17 anos. Já são 17 anos dedicados ao magistério. 16 anos no ensino superior. 12 anos na Universidade Federal de Santa Maria. Vivi - nesse período - o que escreveu o escritor Paulo Coelho: "As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada".

Tentei e tento ser - como pessoa e profissional da educação - o que se diria em inglês a man of many parts: "um homem de inúmeros talentos, sempre curioso, sempre interessado". Escritor, contista, poeta, cronista, bon vivant, hedonista, um mosaico, um caleidoscópio de emoções, sentimentos, desejos e vontades.

Nos últimos anos, e principalmente a partir da pandemia, sigo os conselhos do inesquecível poeta Mário de Andrade: "Depois de lidar com mediocridades e egos inflamados (...) caminhei perto de coisas e pessoas de verdade, vivi ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade".

Ainda longe do ideal
Confesso que ainda estou longe do que considero ideal como professor nas três dimensões ou atividades específicas, quais sejam, o ensino, a pesquisa e a extensão. Enfocarei - neste texto - apenas o ensino.

Ensino

Na minha modesta opinião, um excelente professor na dimensão do ensino deve:

  • a) Ter um raciocínio que flui cartesianamente;
  • b) Usar palavras bem escolhidas, algumas envoltas de beleza, outras bem humoradas;
  • c) Ter o domínio de tudo que seja oratória: o jogo de cena, do espaço, dos intervalos e do silêncio reflexivo.

No ensino, aprendi muito e novas lições são aprendidas a cada aula na arte de ensinar. Cada nova turma exige uma estratégia própria. Aprendi que consigo os melhores resultados em relação à atenção dos alunos se considero alguns pontos como:

  • A) HUMOR: PROFESSORES BEM HUMORADOS CONSEGUEM MAIS FACILMENTE MANTER ATENTOS OS GRUPOS. FRASES ESPIRITUOSAS E EXEMPLOS CONSTITUEM RECURSOS BASTANTE EFICIENTES.
  • B) ENTUSIASMO: O ENTUSIASMO DO PROFESSOR COM FREQUÊNCIA TRANSMITE-SE PARA OS ALUNOS. POR ESSA RAZÃO, CONVÉM QUE OS PROFESSORES SOMENTE SE DISPONHAM A MINISTRAR DETERMINADA MATÉRIA QUANDO ESTIVEREM CONVENCIDOS DE SUA IMPORTÂNCIA.
  • C) APLICAÇÃO PRÁTICA: POUCAS COISAS SÃO TÃO DISPERSIVAS QUANTO UM LONGO DISCURSO QUE NÃO INDIQUE ALGUMA APLICAÇÃO PRÁTICA. POR ESSA RAZÃO É QUE SE TORNAM MUITO ÚTEIS OS EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS PROPOSTOS PARA OS ALUNOS.
  • D) RECURSOS AUXILIARES DE ENSINO: OS RECURSOS AUDIOVISUAIS SÃO IMPORTANTES PARA MANTER O GRUPO ATENTO. A EFICIÊNCIA OBTIDA COM ESSES RECURSOS TORNA-SE MAIOR AINDA QUANDO SUA UTILIZAÇÃO É DIVERSIFICADA.
  • E) PARTICIPAÇÃO: A ATENÇÃO DE UM GRUPO AUMENTA À MEDIDA QUE SUA PARTICIPAÇÃO É SOLICITADA. CABE, NO ENTANTO, CONSIDERAR QUE SÓ CONVÉM FAZER AO GRUPO PERGUNTAS QUE POSSAM SER RESPONDIDAS SEM MAIORES DIFICULDADES.

Devemos nos atentar que o processo de ensino/aprendizagem no curso superior tem seu diferencial na forma de se lidar com o conhecimento. Aqui, como afirma o professor Antônio Joaquim Severino, "o conhecimento deve ser adquirido não mais através de seus produtos, mas de seus processos. O conhecimento deve se dar mediante a construção dos objetos a se conhecer e não mais pela representação desses objetos. Ou seja, na Universidade, o conhecimento deve ser construído pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente, como ocorre o mais das vezes nos ambientes didático-pedagógicos do ensino básico".

De qualquer modo, o papel do professor é essencial:

  • a) na formação de profissionais das mais diferentes áreas aplicadas, mediante o ensino/aprendizagem de habilidades e competências técnicas;
  • b) da formação científica mediante a disponibilização dos métodos e conteúdos de conhecimentos nas mais diversas áreas de saber;
  • c) na formação do cidadão, pelo estímulo de uma tomada de consciência, por parte do estudante, do sentido de sua existência histórica, pessoal e social.

O papel transformador da Universidade

Eu acredito no papel transformador da Universidade. Quando vemos o progresso intelectual e humanístico que nossos discentes passam ao ingressarem e ao concluírem o curso escolhido na Universidade, percebemos o valor da educação superior que está expressa no aprimoramento da vida humana em sociedade.

Por fim, eu creio que a Universidade constitui um pequeno lugar de desprendimento, ponderação sobre as ideias da época corrente. A função principal da Academia é nadar contra a correnteza. É o topos do desenvolvimento intelectual contra a estreiteza do pensamento. Assim, a Universidade deve promover perguntas, criar dúvidas, estabelecer incertezas, ser um espaço da liberdade de pensamento.

A Universidade deve ser um ácido sulfúrico nas certezas. Ou seja, deve ser um espaço impenetrável a dogmas, crenças irrefutáveis, ideologias, sectarismos e partidarismos cegos e alienados. É o que eu acredito!

Dedico esse breve texto aos motivados e interessados alunos e alunas da Turma de 2020 do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Referências

GIL, Antonio Carlos. Metodologia do ensino superior. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2011.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 24 ed rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2016.

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