Se você gosta de cerveja e costuma frequentar bares - obviamente em tempos sem pandemia -, com certeza já viu toda a movimentação que envolve as cervejas verdes e o Saint Patrick's Day. O festejo, que teve origem na Irlanda, vem ganhando cada vez mais espaço junto ao público mais jovem, inclusive no Brasil e Santa Maria não foge à regra.
Como muito do que envolve o universo cervejeiro, o Dia de São Patrício, o santo padroeiro da Irlanda, tem em sua origem uma ligação histórica. A data é comemorada em 17 de março, que é o dia em que ocorreu a sua morte, em 461 e também o marco da chegada do Cristianismo à Irlanda.
Por mais que seja uma data religiosa, uma efeméride como se costumava dizer até um tempo atrás, o Saint Patrick's Day celebra a herança e cultura dos irlandeses em geral. As celebrações geralmente envolvem desfiles, festivais públicos, música folclórica e o uso de trajes verdes ou trevos.
Muitas vezes vemos esses elementos por aqui quando há a data comemorativa, mas não sabemos a sua origem, que é bem rica em questões culturais. São Patrício usava o trevo de três folhas para explicar a Santíssima Trindade e evangelizar os pagãos no século V, tendo convertido milhares ao cristianismo. Daí o uso do trevo como símbolo. Aliás, dizem os irlandeses que foi São Patrício que amaldiçoou as serpentes na Irlanda e elas desapareceram, e não é que não existem mesmo cobras por lá?!
Podemos, inclusive, fazer um paralelo entre os festejos do nosso Carnaval e da Oktoberfest na Alemanha, com o que representam os festejos de Saint Patrick para a Irlanda. É um tempo de alegria, explosão cultural, e é claro muita cerveja. Por aqui, a data está cada vez mais popular, e aí chegamos onde mais me interessa, estando fortemente associado ao movimento da cerveja artesanal.
Por uma ironia do destino, a data acontece durante a Quaresma, quando os católicos deveriam se abster de beber bebidas alcoólicas e moderar na alimentação. Porém, devido a importância de São Patrício, estas restrições foram eliminadas neste dia, o que acabou por encorajar e propagar a tradição do consumo de cerveja, bebida que por sinal é muito apreciada pelos irlandeses.
É comum vermos Saint Patrick's Day ligado ao consumo de cerveja verde, que é apenas uma cerveja com corante. Mas pessoalmente gosto de associar o festejo a uma boa dry stout.
A experiência de beber uma dry stout, servida na torneira é algo ímpar. O estilo, cujas referências são a Guinness e a Murphys, é escuro, com baixo teor alcoólico (entre 4 e 4,5%). É uma bebida com notas de café e chocolate amargo, baixo dulçor e uma lupulagem herbal. É um verdadeiro clássico no universo das cervejas. A dry stout requer uma torneira especial e é dispensada com o uso de nitrogênio, o que proporciona uma espuma especialmente cremosa e, nos pubs, quando bem tirada, traz um trevo desenhado na espuma, uma homenagem e tanto a São Patrício.
Mas daí você me diz: Denys, em tempos de pandemia, sem um bar para apreciar uma cerveja dessas e com a cotação do dólar nas alturas, encontrar uma Guinness ficou muito difícil! E é justamente aí que quero chegar. Em momentos assim, conhecer a produção local torna-se um privilégio. Nós, os cervejeiros locais, oferecemos exemplares do estilo, com muita proximidade dos clássicos, pois já conseguimos produzir algo muito próximo, inclusive reproduzindo a água de Dublin na receita. Procure no seu fornecedor uma Dry Stout em growlers (take away) e comemore o Saint Patrick's Day, com fé e sem aglomeração, pois pra quem já expulsou as serpentes da Irlanda, expulsar um vírus daqui parece café pequeno.
Cheers!