pandemia

'Estamos com uma situação de esgotamento da capacidade de atendimento', diz médico epidemiologista

18.389

data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Wander Schlottfeldt (Diário/Arquivo)/

Na última segunda-feira, Santa Maria ultrapassou, em 2021, o número de mortes associadas à Covid-19 em todo o ano de 2020. Em atualização no último boletim epidemiológico municipal, a cidade já acumula 317 óbitos em decorrência da doença, 12 divulgados em um intervalo de 24 horas. A crescente negativa dos números no município, tanto em relação à taxa de ocupação de leitos, quanto à mortalidade, tem levado os profissionais da linha de frente do combate ao novo coronavírus à exaustão e, principalmente, preocupação, diante de um colapso eminente do sistema de saúde. 

Última paciente de Manaus recebe alta de hospital de Santa Maria

Para o médico epidemiologista da Vigilância Municipal em Saúde, Marcos Lobato, que também é coordenador do Centro de Referência Municipal da Covid-19, a cidade vive uma situação de esgotamento.

Santa Maria supera o limite de capacidade e ocupação dos leitos clínicos chega a 100,6%

- Os óbitos, até então, eram situações da gravidade esperada dos casos, com um perfil de pessoas com comorbidades e idade mais avançada, com poucas chances de sobreviver. Agora, essa mudança é relacionada à dificuldade de acesso ao serviço de saúde e uma exposição maior a partir do final do ano passado. Começa a ter mais circulação de pessoas, começa a ter mais casos, começa a ter mais internações, e, consequentemente, começa a ter mais óbito. Só que agora isso está sendo acelerado porque a gente está com esgotamento. Não chega a ser um colapso, como em Porto Alegre, mas a gente já está em uma situação de esgotamento da capacidade de atendimento. E a gente começa a ter casos de pessoas que, se conseguissem acessar em tempo o serviço, poderiam ter sobrevivido. Começamos a ter fila de espera para UTI nas emergências. Pessoas jovens chegam muito comprometidas, o que não era esperado. E, associado a isso, temos o esgotamento do sistema de saúde. A gente poderia abrir mais leitos, sim, mas só isso não evita contágio. O prognóstico é muito ruim - avalia o especialista. 

BANDEIRA PRETA
Conforme o médico, a situação na qual Santa Maria se encontra atualmente é reflexo do comportamento coletivo da população, que não tem respeitado o distanciamento social, mesmo com medidas mais rígidas, com a vigência da bandeira preta em todo o Estado. Lobato não descarta a possibilidade de um lockdown como alternativa para reduzir os casos, mas defende que haja medidas de auxílio para as pessoas que não podem ficar em casa: 

- Tudo depende do nosso comportamento. O que está acontecendo agora é resultado do comportamento coletivo e só muda se o coletivo mudar. Se não mudar, as coisas só vão piorar. Deveríamos ter um governo central que nos ajudasse e não nos atrapalhasse. Não existe possibilidade de criar leitos ilimitadamente. Mesmo com a bandeira preta, a gente não vê a diminuição efetiva de circulação de pessoas. Talvez isso não tenha jeito, talvez a gente acabe tendo que ir para o lockdown. Tirando a Região Central, a Centro-Oeste e Sul, as outras estão todas em colapso do sistema de saúde. Lockdown e isolamento sempre são remédios amargos. Mas em uma medida extrema, não tem jeito, não há saída. Quando chega nessa situação, o que fazer? Pelo que está acontecendo, não vamos reduzir números pelos próximos dias, não é a perspectiva. Porque tem pessoas circulando, porque não conseguimos manter as pessoas em casa. Mas se não tem ajuda para as pessoas comerem, para os empresários não quebrarem, como faz para eles ficarem em casa, se eles dependem do trabalho para sobreviver? Talvez o lockdown tenha que acontecer, mas talvez a gente não consiga segurar ele, pois não tem apoio. Qual município sozinho consegue segurar uma pandemia? A gente tem como atrasar o processo, a chegada do caos, mas do jeito que estão as coisas, vai ser o caos. O Brasil tomou o rumo errado, é isso. 

NOVA CEPA 
Na manhã de terça-feira, o governo do Estado divulgou um estudo em que apontou que a variante mais contagiosa de Covid-19, a P1, de Manaus, já foi confirmada em 12 municípios gaúchos. Apesar de Santa Maria estar fora da lista, o médico não descarta a possibilidade da nova cepa já já esteja em circulação na cidade.

- É possível que seja a nova variante? Sim, é possível, porque está mudando o perfil clínico dos casos. Mas infelizmente não temos acesso a exame de avaliação de sequenciamento completo do vírus, estamos conversando com o Estado sobre isso. Essa variante tem uma característica de ficar mais tempo em incubação, ela transmite por mais tempo e tem uma carga de vírus maior. A gente ainda não conseguiu ver diferenças significativas dos casos, mas parece que está acontecendo. E a pior notícia é que pode surgir uma terceira variante, porque tem tudo para acontecer. É o que acontece quando tem muitas pessoas circulando. O vírus se adaptou e foi proporcionado por um ambiente assim, de pessoas circulando. Acho que ainda temos chance de segurar um pouco, mas com o movimento que tem, e se a P1 chegar logo, é bem complicado. Ainda estamos lidando com o vírus antigo, e essas medidas seguravam a cepa antiga. Do jeito que estão as coisas, não seguramos a nova cepa, é preciso medidas mais drásticas. Infelizmente, não imaginava que fossemos chegar a um ponto tão grave. Achei que a gente fosse suportar essa montanha russa, de subidas e descidas, mas agora não parece que a gente não vá ter um ciclo que não seja muito longo - lamenta o médico.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Pacientes morrem à espera de leitos de UTIs nas emergências em Santa Maria

30 idosos com mais de 77 anos são vacinados em Santa Flora Próximo

30 idosos com mais de 77 anos são vacinados em Santa Flora

Saúde