Sintomas, transmissão e gravidade: presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia esclarece dúvidas sobre a mpox

Sintomas, transmissão e gravidade: presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia esclarece dúvidas sobre a mpox

Foto: Canva (Reprodução)

Com aumento de casos, doença passou a ter alerta global pela OMS.

A mpox, anteriormente conhecida como "varíola dos macacos", vem chamando a atenção dos especialistas após o surto de uma cepa com grande transmissibilidade e maior taxa de mortalidade no continente africano. Apesar da declaração da doença como emergência de saúde pública global, não significa que o vírus está virando uma pandemia. Em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade! desta terça (20), Alessandro Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia do RS, esclareceu dúvidas sobre sintomas, transmissão e tratamento do vírus. Lesões cutâneas, febre, fadiga e dores são alguns dos principais sintomas da doença.

— Esse alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) é para que o mundo fique atento para uma doença que pode ser mais agressiva, que pode ser transmitida com facilidade e não facilmente reconhecida — destaca o especialista.

O que é a mpox?

Causada pelo vírus Monkeypox, a doença zoonose viral pode se espalhar entre pessoas e, ocasionalmente, do ambiente para pessoas, através de objetos e superfícies que foram tocados por um paciente infectado. Em regiões onde o vírus está presente entre animais selvagens, a doença também pode ser transmitida para humanos que tenham contato com os animais infectados.

— É importante lembrar que essa doença tem circulado no Brasil nos últimos anos. Nós tivemos milhares de casos em 2022, ela diminuiu bastante e em 2023 ela quase desapareceu. Agora, a preocupação maior é que surgiu uma variante mais agressiva desse vírus na África Central, especificamente no Congo, e essa doença se espalhou para os países vizinhos, e por isso o Ministério da Saúde lançou uma nota de preocupação para que os países se previnam contra essa doença.

Qual a diferença das cepas?

A mpox é dividida entre duas variantes: cepa 1 (por trás do surto atual na África e alerta da OMS) e a cepa 2 (observada no surto mundial de 2022), que era menos agressiva. Até o momento, o Brasil registrou apenas casos da cepa 2. No RS, três cidades tiveram casos confirmados.

Por que ela mudou de nome?

A doença era chamada de varíola dos macacos porque foi identificada pela primeira vez em 1958, em macacos. Ela foi detectada em humanos apenas em 1970.

Durante o surto em 2022, nenhum dos casos registrados teve relação com os animais, e a contaminação foi transmitida entre pessoas. A partir disso, a OMS optou por alterar o nome da doença para que os animais não fossem prejudicados. 

O nome escolhido foi "mpox", do inglês, "monkeypox".

Quais os sintomas?

A mpox pode causar uma série de sinais e sintomas. Embora algumas pessoas apresentem sintomas menos graves, outras podem desenvolver quadros mais sérios e necessitar de atendimento em unidades de saúde. Pasqualotto conta que a doença causa sintomas semelhantes com a varíola, porém, age de uma forma menos agressiva. Os principais sintomas são:

  • febre;
  • dor muscular;
  • inchaço dos gânglios linfáticos (pequenos nódulos existentes no nosso corpo que funcionam para filtrar substâncias nocivas no organismo humano);
  • lesões semelhante a bolhas ou feridas nos rostos ou mãos, que podem avançar também para as genitálias;

— Ela parece com sífilis, herpes, varicela, com várias erupções cutâneas — pontua o especialista.

O período de incubação, que compreende o tempo entre o contágio e o aparecimento de sintomas, é geralmente de seis a 21 dias. Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem sozinhos em poucas semanas, mas, em algumas pessoas, o vírus pode provocar complicações médicas e mesmo a morte.

Como é a transmissão?

Segundo Pasqualotto, a mpox é uma doença transmitida por contato, no "pele a pele". Entre todos os meios de transmissão, o principal é através de relações sexuais. Porém, existem outras formas de contrair, como falar ou respirar próximos uns dos outros (pode gerar gotículas de saliva), em contato com materiais contaminados no meio em que se vive ou com um animal infectado.

Qual o tratamento?

Não há tratamento específico para a infecção pelo vírus da mpox. O tratamento consiste em um suporte clínico para aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações.

Existem grupos de risco?  

O especialista pontua que pessoas imunossuprimidas correm maior risco de desenvolver mpox em um quadro mais grave. Segundo ele, grande parte dos casos são registrados em pacientes com HIV.

— De modo geral, ela é branda, mas pessoas em especial com defesa baixa podem ter uma doença mais grave e pode levar a óbito, sim — diz o especialista.

Além disso, recém-nascidos e crianças também correm maior risco de sintomas mais graves da infecção.

Tem vacina?

vacinação contra a mpox no Brasil começou em 2023, após a Anvisa liberar o imunizante provisoriamente. Em 15 de março, as primeiras doses chegaram em solo gaúcho. Foram priorizados grupos vulneráveis a pré e a pós-exposição ao vírus. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 29 mil doses foram aplicadas no país até o momento.

Porém, de acordo com a OMS, apenas pessoas que estão em risco (quem teve contato próximo com um paciente) ou que integram algum grupo de alto risco para exposição ao vírus devem ser consideradas para a vacinação.

Mpox é a nova Covid-19?

Não há motivo para pânico. Pasqualotto salienta que não há como comparar a mpox com o SARS-CoV-2. 

— Quando a gente fala em pandemia vem toda a preocupação de vir algo semelhante à Covid, mas não é nada comparável. A Covid é muito mais transmissível, ela transmite por via respiratória, por gotículas de pessoas que estejam próximas em ambientes fechados. A mpox é principalmente transmitida por contato, então não é uma doença comparável, não tem o potencial para causar mortes ou discriminação como a Covid, mas sim, tem risco de se espalhar pelo mundo como tantas doenças que a gente tem visto hoje em dia — esclarece.


Confira a entrevista completa



*com informações da Agência Brasil, Secretaria de Saúde do RS e governo do Estado

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