Politiza

Muito além do briho e do confete

Marcelo Martins

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No Exterior, o Brasil ostenta muitos títulos: nação dona do melhor futebol do mundo, terra de belezas naturais e, um dos jargões mais repetidos, o país do Carnaval. E o Politiza deste fim de semana está em ritmo de.. esclarecimento. Isso mesmo. A seção falou com historiadores, cientistas políticos para explicar como e quando essa grande festa popular chegou ao país. Embora muita gente pense que o Carnaval teve origem aqui, a verdade é que essa comemoração chegou, em 1500, com os portugueses. Ao contrário do que muitos pensam, o Carnaval (que significa "adeus à carne") tem como um dos seus carros alegóricos a política. Duvida? Não é preciso ir muito longe para exemplificar a proximidade entre a política e essa grande festa popular. Em Santa Maria, por exemplo, um decreto assinado pelo prefeito Cezar Schirmer (PMDB), ainda em dezembro, traz as normas para o período de carnaval. O decreto é um nítido exemplo de como os foliões têm sua diversão regrada pela classe política. A data da festa, aqui, é também uma decisão política - a que ocorrerá em 14, 15 e 16 do próximo mês.

Outra polêmica questão é a colocação de recursos públicos em uma festa popular. A prefeitura, neste ano, liberou R$ 270 mil para as escolas de samba, o que serviu para dar um impulso na confecção de fantasias e de carros alegóricos. A prefeitura também colocará R$ 335,3 mil para a montagem da estrutura, logística e serviços para os desfiles da Avenida Liberdade. Ao todo, são R$ 605,3 mil em dinheiro do contribuinte para a festa. Para Ângela Quintanilha Gomes, professora da Unipampa e doutora em Ciência Política pela UFRGS, a colocação de recursos públicos em uma área cultural é legítima:

_ A cultura - assim como tantas outras demandas, como saúde e educação - exige a reserva de recursos públicos.

Alexandre Lazzari, professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro "Coisas para o povo não fazer: carnaval em Porto Alegre, 1870-1915", é de uma corrente de historiadores que acredita ser difícil se precisar a origem do surgimento do Carnaval:

_ Não me parece viável estabelecer "origens" para o carnaval porque as formas, símbolos e significados desse tipo de festa sofrem muitas influências e transformações ao longo do tempo e variam conforme os lugares onde é comemorada. Durante o século 19, as burguesias de algumas cidades europeias deram um tom mais refinado para as comemorações tradicionais dos dias que antecediam a quaresma. Fantasias e bailes elegantes pretendiam fazer um contraponto a tradições de brincadeiras grosseiras ou violentas, excessos e ritualizações da inversão da ordem social, que eram heranças dos costumes das cidades medievais. As tradições do velho carnaval de Venezia, nesse sentido, ofereceram um modelo de sofisticação a ser copiado e reinventado.

O historiador também comenta o entrudo, ou seja, uma festa de origem portuguesa que mesclava características populares, brincadeiras e, até mesmo, manifestações religiosas. Os festejos foram introduzidos no Brasil, ainda quando da chegada dos portugueses:

_ O combate aos costumes tradicionais era feito em nome da "civilização" atribuída aos costumes das elites europeias. Mas a "civilização" no Brasil escravocrata significava algo mais que hábitos elegantes. Civilizar o carnaval, em uma cidade populosa para os padrões da época como o Rio de Janeiro, significava impor ordem a uma situação incômoda e até perigosa, onde escravos e pobres podiam circular pelas ruas no anonimato, fantasiados de diabos, princeses, ursos e outras fantasias do gosto popular. Brincadeiras portuguesas tradicionais como entrudo, em que rapazes e moças atiravam água uns aos outros sob a supervisão patriarcal, davam lugar a verdadeiras guerras e jogos eróticos sem controle. Por fim, cortejos de escravos ou libertos realizando danças e ritmos africanos escandalizavam uma elite intelectualizada à francesa. Estes jornalistas e literatos é que defendi"

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