Com voz na periferia, bicampeã de votos tem cadeira desta vez: quem é a vereadora Alice Carvalho

Com a palavra, os vereadores novatos. A série com os 21 parlamentares eleitos para o Legislativo de Santa Maria apresenta, a partir desta edição, os seis estreantes no Parlamento. Os dois primeiros representam os dois maiores bairros da cidade e estão em campos ideológicos opostos: Alice Carvalho e Guilherme Badke.

+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp

Nascida e criada em um dos bairros mais tradicionais da zona oeste de Santa Maria, o Tancredo Neves, Alice Carvalho da Silva dos Santos chega à Câmara de Vereadores, aos 28 anos, como uma das lideranças mais jovens entre os 21 parlamentares. E com um grito de vitória que estava entalado na garganta há quatro anos. 

Isso porque, nas eleições municipais de 2020, foi a candidata mais votada, com expressivos 3.371 votos, mas não conseguiu assumir devido às regras do quociente eleitoral. Em 2024, foi a mais votada outra vez entre os 257 concorrentes, superando a marca de 2020, com 4.129 votos. Em 2025, assumiu a única cadeira do PSol (Partido Socialismo e Liberdade) no Legislativo local e imagura a primeira bancada do partido em Santa Maria.

– Ser vereadora nunca foi um plano definitivamente, mas, em 2018, eu estava na presidência do PSol de Santa Maria e foi discutido que seria importante que houvesse uma candidatura para levar as pautas da juventude para a comunidade e, com isso, fazer o partido crescer e ser conhecido. Sobre não ter sido eleita em 2020, foi um misto de sentimentos: fiquei muito feliz com o número de votos, pois foi uma campanha com ideias totalmente socialistas, mas também aquela sensação de “e se eu tivesse chegado lá?” – relembra a parlamentar estreante.

​“Confirmadíssimo”: saiba como surgiu o bordão que agora é o nome oficial do vereador Rudys em Santa Maria

Vocação política

Psicóloga, formada pela Universidade Franciscana (UFN), Alice, que é solteira, considera-se reservada e muito família. A vocação para política vem de berço. A vereadora é filha da professora aposentada Marisa Carvalho, que foi candidata a vice-prefeita pelo PSol na última eleição. E, entre as motivações que a fizeram chegar na política partidária, a pauta negra e feminista tem destaque. O despertar se deu em 2013, após as jornadas de junho daquele ano. O movimento foi marcado por uma série de mobilizações de massa ocorridas em mais de 500 cidades do Brasil para protestar contra situações como o aumento da tarifa de transporte público, violência policial e a falta de investimentos em serviços públicos nas áreas de saúde e educação.

– Eu moro na Tancredo Neves desde que eu nasci, então isso me faz ter contato com todo mundo por aqui. E a minha vivência nessa região vai desde os meus movimentos próprios, passam pelos meus familiares, que também moram aqui no bairro, organizações comunitárias até questões culturais, como a escola de samba que existia aqui, a Trevo de Ouro, que meus pais sempre tiveram envolvimento – conta a vereadora.

Declaradamente feminista e defensora do Movimento Negro, Alice escolheu o número 50.777 para as urnas – e isso desde sua primeira eleição em 2018, quando foi candidata a deputada estadual . É o mesmo que foi utilizado pela socióloga, ativista e vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em março de 2018, que representou, em sua totalidade, os ideais defendidos pela vereadora santa-mariense.

 
Depois disso, Alice concorreu a vereadora em 2020; a deputada estadual em 2022, quando conquistou 9.350 votos. Em 2024, finalmente, conquistou vaga para atuar como vereadora, após seis anos de disputa nos pleitos estadual e municipal. Nesta nova legislatura, Alice será uma das três mulheres na Câmara, ao lado de Marina Callegaro (PT) e Helen Cabral (PT), do mesmo campo ideológico.

– A partir de agora, vou trabalhar incessantemente, sobretudo, pela garantia de direitos de uma vida digna para as pessoas que mais precisam do poder público. Foi por isso que fui eleita. Também pelas pessoas negras, combater a violência, o preconceito, as diferenças de classe e buscar mais oportunidades para elas. Além disso, por uma maior visibilidade e valorização de bairros da periferia – destaca a psicóloga.

Base ampliada

Pautas essas que ficaram evidentes em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro, quando se tornou a primeira mulher negra a presidir esse tipo de sessão em Santa Maria, um momento em que se dirigiu diretamente a políticos de ideologia opostas e a sua base eleitoral: moradores de periferia, jovens, estudantes e pessoas de classes baixa:

– Nesta última campanha, nós conseguimos alcançar outras pessoas que não havíamos conseguido chegar em 2020, como os idosos, por exemplo, mas minha base são a juventude, as mulheres negras e o povo de periferia. A periferia, de certa forma, tem um olhar mais carinhoso e, acima de tudo, esperançoso por uma vida melhor.

A trajetória

•  28 anos
•  Natural de Santa Maria
• Psicóloga
•  Filiada ao PSol
• Candidata a deputada estadual (2018); candidata a vereadora mais votada (2020); candidata a deputada estadual (2022); vereadora eleita (2024)