Foto: Renan Mattos (Diário)
Doutor em Filosofia e professor da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, que esteve em Santa Maria na semana passada para palestrar na Sedufsm, é um dos maiores especialistas no assunto atualmente. Em entrevista ao Diário (leia abaixo), ele ressalta que a maioria das páginas considerada disseminadoras de fake news não publicam notícias totalmente falsas.
Em período eleitoral e de polarização partidária, as notícias falsas circulam nas redes sociais em um ritmo quase instantâneo na internet e por isso ele dá dicas de como identificar o que é verdade e o que é fake news sobre eleições na internet.
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Diário de Santa Maria - O senhor é considerado atualmente um dos maiores pesquisadores de fake news no Brasil. Como surgiu o interesse pelo tema?
Pablo Ortellado - No nosso laboratório, a gente não estudava notícias em si, trabalhávamos sobre a questão da polarização da política. Acontece que o consumo de fake news está diretamente ligado a essa polarização. É praticamente um subproduto que tomou a sociedade brasileira. Nós iniciamos os estudos em 2015 e ficou muito óbvio, a partir de determinado momento, que o consumo de notícias era a chave para entender este fenômeno. Então, criamos monitores para conseguir acompanhar as notícias do Facebook, que é a segunda maior fonte de informações dos brasileiros hoje.
Diário - Com a proximidade das eleições, qual o impacto das fake news no cenário político e nas campanhas eleitorais?
Pablo- É muito importante, porque cerca da metade de tudo que é compartilhado no Facebook vem dessas fontes de fake news, então a importância é enorme. Esse fenômeno vem antes das eleições porque as notícias vão moldando a opinião pública. Agora, bem pouco tempo antes de o cidadão votar, é a hora de transformar aquela opinião que você está fomentando em votos. Apesar disso, hoje já existen sites que já tomam partido.
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Diário - O que mudou das eleições municipais de 2016 para as gerais deste ano em termo de disseminação de conteúdo falso na internet?
Pablo - Esse sistema foi se constituindo, foi se consolidando. As fake news têm um público e disputam o mercado de compartilhamento nas redes sociais - é muito diferente do jornalismo online de grandes grupos. Nos veículos tradicionais, a maior fonte de acessos é o próprio portal, ou seja, pessoas que acessam o site para conferir as últimas notícias. Depois, você tem os mecanismos de busca, como o Google, por exemplo, e só por último, vêm as redes sociais. Já os sites hiperpartidários e disseminadores de fake news invertem essa lógica. Para eles, a primeiríssima fonte de acesso são as redes sociais, porque eles têm poder de difusão de massa por meio disto.
Diário - O que o senhor acha da iniciativa que Tribunais Regionais Eleitorais estão tomando para combater o volume tão grande de fake news?
Pablo - Eu entendo que é uma questão eleitoral, é obrigação de o sistema impedir manipulação, mas atribuir ao Estado fazer isso é muito temerário. Primeiro, porque não dá para verificar tudo por causa do volume. Se você não fizer isso com muito cuidado, não vai conseguir verificar nada e se, por acaso, tentar dar conta desse de todas as notícias, certamente vai fazer censura.