Restinga Seca

Juiz suspeito de matar ex-secretária tinha ciúme doentio, revela inquérito

José Luis Costa

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Durante décadas, incontáveis réus foram para a cadeia pelo pulso firme do juiz Francisco Eclache Filho, em Minas Gerais. Quatro anos após se aposentar e longe dos tribunais mineiros, o magistrado é quem foi para atrás das grades, preso preventivamente no Palácio da Polícia Civil, em Porto Alegre, suspeito de matar com quatro tiros a companheira, a economista Madalena Dotto Nogara, 55 anos, ex-secretária de Finanças de Restinga Seca.

O assassinato ocorreu em 22 de julho, 54 dias após o casal oficializar a união estável, fruto de um relacionamento pela internet. O motivo do crime seria uma suposta crise de ciúmes da mulher, 10 anos mais jovem.

Aos 65 anos, o juiz é um dos 13 ocupantes (outros 10 policiais civis e dois agentes penitenciários) da carceragem da Polícia Civil. Aparenta tranquilidade, fala pouco e evita entrevistas. Dorme em um alojamento individual, assim como os demais presos, e tem de arrumar a cama e lavar a própria roupa em um tanque. Recebe a mesma comida dos outros presos, fornecida pelo Estado e preparada por um dos policiais detidos. Tem acesso a livros, revistas, jornais e TV.

Os caminhos de Eclache Filho e de Madalena se cruzaram em meados de 2013. O namoro era por câmeras de vídeo distantes 2 mil quilômetros _ o juiz morava em Manhumirim, pequena cidade na Zona da Mata, em Minas. Conheceram-se em outubro e, em janeiro, Eclache Filho desembarcou as malas em Restinga Seca. Um mês antes do crime, buscou em Minas um revólver calibre 38 _ uma das 14 armas em seu nome.
O juiz aposentado não economizou para agradar Madalena. A presenteou com um Uno Vivace. Mandou reformar a casa da família e comprou um terreno para uma nova moradia.

Sentimento era de posse

Na intimidade, contudo, o juiz nutria um ciúme doentio, embalado pelo consumo de álcool, segundo revela o inquérito policial. 

_ Ele tinha sentimento de posse em relação a vítima, restringiu contatos com pessoas e a obrigou a excluir o perfil no Facebook _ diz Sandro Marones, autor da denúncia de homicídio triplamente qualificado.

Conforme denúncia do MP, no dia do crime, o juiz tomou providências para evitar receber visitas _ teria pego as chaves do portão eletrônico da garagem da casa da filha de Madalena, impedindo que ela saísse de casa. Com um revólver calibre 38, segundo o MP, o juiz disparou quatro vezes em Madalena.

Na Delegacia da Polícia Civil de Osório, o juiz confessou o crime para o delegado Gustavo Brentano. Alegou ter sido acidental, enquanto ensinava a mulher a manusear o revólver.

Defesa alega legítima defesa

O assassinato de Madalena Dotto Nogara foi uma reação em legítima defesa. Essa é a versão de Ramon D'Avila Prottes Soares, um dos advogados do juiz Francisco Eclache Filho.

O criminalista evita discorrer sobre sua tese, alegando questões éticas, mas garante que o magistrado não teve intenção de matar. Afirma que o juiz não bebia em exagero e não tinha ciúmes da mulher.

_ Ele está muito abalado, tentando entender o que aconteceu _ resume Soares.

O advogado assegura que o crime não foi premeditado e que não houve fuga.

_ Ele estava com receio de se apresentar em Restinga Seca e decidiu se entregar ao Tribunal de Justiça de Minas. Mas, neste interim, sofreu um acidente.

Na semana passada, Eclache se negou a participar de uma reconstituição do crime, e o Tribunal de Justiça do Estado já rejeitou dois pedidos de habeas corpus para libertá-lo.

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