A defesa de integrantes do DCE da UFSM de tornar o acesso mais igualitário com a manutenção das vagas via prova do Enem tem uma grave falha. Eles até alegam que a volta do vestibular tornaria o ensino mais elitizado, pois os mais ricos teriam condições de pagar cursinho e abocanhar mais vagas da universidade pública. Porém, o argumento, na minha opinião, é falho. Hoje, já existem cursinhos para fazer a prova do Enem, e os cursinhos de Medicina são os mais caros, mas seguem existindo. Claro que o vestibular talvez fosse fortalecer os cursinhos de Santa Maria, porém, não acredito que tendo ou não a prova local, vai fazer tanta diferença.
Além do mais, se o vestibular voltar, seguirão as vagas por cotas para negros, indígenas, estudantes de escola pública – é isso que tem garantido maior diversidade nas universidades.
O DCE defende também o acesso igualitário a todas as vagas, o que eles avaliam que deveria seguir sendo por meio da nota no Sisu e da prova do Enem. Mas então, deveriam pressionar a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Ministério da Educação para unificar os meios de acessos a vagas nas universidades públicas de todo o país – isso sim daria direitos iguais a todos os brasileiros. Claro que isso é inviável porque as instituições têm autonomia para decidir sobre isso. Porém, o sistema atual nas federais comete uma grande injustiça ao permitir privilégio de acesso para jovens de cidades onde há vestibular nas universidades.
Aluno daqui não consegue fazer vestibular fora
Por exemplo: um estudante pobre da periferia de Boa Vista (RR) consegue fazer o vestibular na Universidade Federal de Roraima e, ao mesmo tempo, pode concorrer a quase todas as vagas da UFSM e de outras universidades federais e estaduais que adotam só a nota do Enem. Pela internet, candidatam-se. Porém, um estudante da periferia de Santa Maria, de São Pedro do Sul ou qualquer outra cidade da nossa região não consegue viajar até Boa Vista (RR) para fazer o vestibular lá. Aqui na UFSM, tanto o jovem de Roraima quanto o da nossa região acabam concorrendo pelas mesmas vagas.
É essa desigualmente de condições que a volta do vestibular acabaria corrigindo. Ou, se mantiverem o Sisu, que houvesse uma campanha para que todas as federais acabassem com vestibular próprio, o que é pouco improvável que vá acontecer.
Federais com prova própria
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD-MS)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Por que o DCE é contra o vestibular como forma de ingresso na UFSM?
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