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Vítimas da ditadura militar darão seu testemunho em evento na UFSM

Joyce Noronha

A ditadura militar no Brasil acabou há 32 anos, mas quem viveu essa realidade e foi perseguido político ainda traz as marcas do período, seja na pele ou na memória. Para colher os testemunhos de pessoas presas ou afetadas de qualquer forma pelo regime militar, a Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, criou o projeto Clínicas do Testemunho Rio Grande do Sul

O projeto, coordenado pelo Instituto Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Instituto/Appoa), é levado a diversas cidades do Estado, com palestras e testemunhos de vítimas dos "anos de chumbo".

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Nesta quinta-feira, 17 de agosto, Santa Maria recebe o projeto, às 17h30min, no auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), no prédio da Antiga Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Centro. 

Com o nome "A Ditadura em Santa Maria: Testemunhos da Repressão e da Resistência", o evento é aberto ao público e conta com a participação de presos políticos ou familiares de perseguidos políticos. O professor Dartagnan Agostini, 74 anos, é uma das pessoas que vão apresentar seu relato. Ele contou ao Diário que foi preso duas vezes e relembrou as situações que viveu durante o período ditatorial. 

MEMÓRIAS

A primeira prisão de Agostini ocorreu em Belo Horizonte, em 1966, quando participou de um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nesta ocasião, ele ficou recluso por quatro dias. 

A segunda foi em São Paulo, em 1971, quando foi levado para o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), onde ficou por dois meses. Depois, foi transferido o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de Porto Alegre, local em que permaneceu recluso por mais três meses.

Agostini vai contar, em palestra, suas vivências do período ditatorial, com foco na tortura física e psicológica da época Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

O professor diz que sofreu pequenas torturas físicas, como socos e choques elétricos, mas comenta que a tortura psicológica era a pior parte.

Eles ameaçavam, diziam que iam fazer coisas horríveis comigo, ou minha família. Foi perturbador – lembra Agostini.

Ele diz que na época não tinha filhos, mas se preocupava com o bem estar de amigos e parentes. O professor participou de grupos considerados subversivos pelos militares, como o movimento estudantil e, mais tarde, foi integrante da Ala Vermelha/PCdoB. A participação dos grupos foi o motivo das prisões.

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Entretanto, Agostini diz que não se arrepender do que viveu, nem de ter sido preso, pois acredita que lutou pelos seus ideais, em busca "de um Brasil democrático e melhor".

Além dele, também apresentam seus relatos Geisa Batista Obetini e Anita Leocádia Melo Cardoso, filhas de Balthasar Melo, líder ferroviário e preso político em Santa Maria no período da ditadura. Os mediadores da mesa serão o representante do Instituto/Appoa, Paulo Gleich, e o professor Diomar Konrad, do departamento de História da UFSM.

O PROJETO

Criado pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, o "Clínicas do Testemunho" visa acolher os testemunhos de pessoas afetadas pela ditadura militar no Brasil, discutindo os efeitos psíquicos, sociais e políticos da violência de Estado. E também oferecer acolhida a pessoas afetadas pelo regime militar, por meio de dispositivos clínicos, como escuta individual e grupos terapêuticos. 

Tem como objetivo capacitar profissionais que atuam junto a pessoas e grupos afetados pela ditadura e pela violência de Estado atual. O projeto também visa produzir conhecimento, através de publicações e outros meios, colaborando com instituições que se ocupam dessas questões na América Latina e no mundo.

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Em seu primeiro biênio (2013-2015), foi sustentado pela Sigmund Freud Associação Psicanalítica (SIG), de Porto Alegre. Agora, na segunda edição, passa a ser coordenado pelo Instituto/Appoa, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, contando, ainda, com apoio da SIG. 

O Clínicas do Testemunho insiste na potência clínico/política dos depoimentos para quebrar o silêncio produzido após os "anos de chumbo" e resgatar a dimensão coletiva das vivências de terror e resistência.


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